AFINAL, SAL NÃO É SALÁRIO?

Tenho verdadeira paixão por empórios.

Talvez se deva ao fato de que meus avós, que imigraram da Itália logo no começo do século passado, ganhavam a vida nesse comércio, num pequeno estabelecimento que montaram na divisa entre dois bairros italianos de São Paulo.

Nunca entendi direito se era na Móoca ou no Brás.

E quando criança , meu passeio favorito era no grande Mercado Central de São Paulo, exatamente um endereço onde a diversidade dos produtos me traz doces recordações, e hoje famoso pelo pastel de bacalhau que ganhou notoriedade mundial!

Não faz muito tempo, depois de passar várias vezes em frente a um elegante empório da cidade, recém inaugurado num endereço super badalado dos jardins, numa bela tarde de Domingo resolvi conhecer o tal do Empório VIP.

Sempre olhava suas decoradas vitrines de longe e intuí que talvez me fosse um "risco" financeiro adentrar o local, mas valia a pena a aventura.Com certeza não seria para o meu bolso...

Embiquei o carro e alguém muito elegante me interpelou logo na entrada.

Baixei o vidro.

-Pois não, senhora?

Por frações de segundo não soube o que dizer.Acho que na verdade não entendi a pergunta...afinal só queria deixar o carro alí, no estacionamento abaixo do meu nariz.Mas...era o manobrista.

-Ah, sim, claro, obrigada...respondi meio sem graça.

Larguei o carro e entrei no Palácio.

Alí na primeira prateleira a sessão de importados.

Vinhos de todos os tipos...e logo outro alguém...

-Deseja degustar algum, senhora?

Bom, claro, aceitei a gentileza. O mais barato custava a bagatela de oitocentos reias a garrafa.Depois passei pela sessão das massas, dos azeites, dos cereais, das frutas secas, dos frios, das latarias...e finalmente cheguei aos produtos nossos, todos superfaturados por no mínimo duzentos por cento.

-Ai Meu Deus, e agora? Observei que a logística da passeata terrminava num caixa, cujo auxiliar, elegantemente tirava as compras do carrinho, as empacotava e depois acionava o manobrista que já aparecia com o respectivo automóvel do cliente. Não tinha como eu "fugir"dalí.

Foi aí que tive uma brilhante idéia...pensei no que faltava em casa, e lembrei que provavelmente a loja não o teria , e eu arranjaria uma boa desculpa para dali eu picar a mula! Empinei a cabeça e me dirigi a um funcionário respirando fundo para criar coragem:

-Por gentileza, dei uma paradinha aqui, preciso urgentemente de sal, será que a casa teria um pacotinho?

-Ah, sim senhora, por favor, queira me acompanhar.

Que educação! Nunca imaginei que tivesse tanto sal pelo mundo! Várias marcas, para vários pratos, para várias ocasiões.Catei elegantemente aquele nosso da avezinha, e me dirigi ao caixa.

-Aceitam cartão, perguntei com extremíssima cara de pau...

-Claro, dez reais senhora.

-Aqui está.

Imediatamente meu carro apareceu, alguém colocou meu pacotinho no porta-malas, reposicionaram o estofamento no local e...quase me carregaram no colo...

-Até logo, senhora, volte sempre...

Fiz as contas e..."Bom, acho que saí no lucro"-pensei. Por dez reais fiz uma viagem pelo mundo, conheci produtos, variedades, gente elegante, comprei meu sal, colaborei com o salário dos funcionários e ganhei o estacionamento VIP.E ainda degustei damascos com vinho alemão!

Conclusão: Para qualquer situação, tenha sempre o plano B, e nunca menospreze a inteligência duma mulher pequena...

Ah, sim...e ainda devo ter passado por uma suposta "milionária excêntrica..."

"Conto verídico".