O ritmo do amor

O casal Alba Cátia e Walter Mellon não frutificava. O pai do rapaz, preocupado, ouviu-o em confidência e se deu logo conta de que o filho andava um tanto afoito, se derretendo antes de mergulhar o biscoito.

Deu-lhe minuciosa receita: tudo nesta vida tem o seu ritmo. E ritma melhor quem ritma por último. Tudo tem que ser compassado, para ser bem compensado. Ouça bem: há um tambor vazio no quintal de sua casa. Vou chegar lá à meia-noite de hoje e dar um toque com uma varinha. Ao ouvi-lo abra o primeiro botão de seu pijama. Ao segundo toque, o segundo, ao terceiro, o terceiro, e como você não usa batina deixe de lado os botões e assuma a atitude másculo-jumentina, sempre ao ritmo das batidas da varinha. Combinado?

E dito e feito. A partir da meia-noite tudo foi se desenvolvendo conforme combinado. Até que lá pelas três da madruga, o velho pai já com a mão trôpega de tanto ritmar ouviu angustiado grito:

- Ripiiiiiiiiiiiiiiiiiica, pai!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/02/2015
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