EI, VOCÊ AÍ, ME DÁ O DINHEIRO AÍ!

Luciana Carrero

As águas vão rolar. Garrafa cheia eu não quero ver sobrar. O Carnaval sempre encantou com sua arte malandra.

Hoje reclamam porque uma ave ligeira, supostamente cortejou a flor de milhões de pétalas que veio do reino de um mecenas e agregou novo valor à cultura da folia, em algum lugar?

Esta discussão toda é do roto falando do descosido, como dizia minha mãe.

O acusado talvez se defenda: fui chantageado pelo carnaval! Se eu não desse a grana, iam fazer um enredo contra mim. Quero meu dinheiro de volta, porque agora estou enredado. Exijo ser julgado onde posso pagar em cestas básicas.

O carnaval responde: O ditador me obrigou a aceitar o dote. Caso contrário iria abduzir minha escola, no Sambódromo.

Como tem gente sofrida neste mundo. E como as razões aparecem na hora dos julgamentos.

Um filósofo que já morreu – Filósofo bom é filósofo morto, porque aos vivos ninguém dá vela nem flor - disse que não existe dinheiro sujo; que este não depende de onde veio, se foi lavado numa causa justa, tal como alegrar o povo de uma terra injusta.

Aqui ou acolá alguém levanta lebres e não prova. E a justiça julga por crime presumido. Este “aqui” foi onde?

Pode ser que haja uma empreitada nesta história mal contada. Pelo sim pelo não, o carnaval do pássaro ligeiro teria passado soberano pelo sambódromo, onde a multidão sambou junto com o dinheiro do benemérito "vilão".

E vivemos a acusação das falcatruas, já que não são minhas nem são tuas porque talvez não tivéssemos oportunidade.

Depois do burro morto, choramos um pranto sem proveito.

Cada um pense individualmente: Somos tão puros e honrados que não aceitaríamos alguns milhões que teriam caído do céu?

– Claro que sim (somos puros e honrados); Claro que não (aceitaríamos). dizem os moralistas, em coro.

- E um pouco mais?

– Bem! mas quanto?

– O dobro!

– Não, não me corrompo.

- Então toma o triplo!

- Negócio fechado. Não tem um smartefonado filmando? Então me passa o malote.

"Visse"? Ou somos tão burros que não podemos aceitar negociações?

Alguém que sempre cortejou a contravenção, agora vem dar uma de moralista!

Por falar em sujeira, ninguém tem roupa para lavar? Esqueceram o 7 a 1 da Copa? – que alguém comprou e alguém vendeu? Esqueceram que colocam, em sua maioria, milionários no Congresso? Por que será? Porque o mercado do compra e vende está escancarado. Depois reclamam que os eleitos não governam para o povo.

Então fiquem calados e vão para o tanque lavar as suas roupas sujas.

Não se preocupem. A justiça vai penhorar as fantasias, que já não valem mais nada e mandar devolver o dinheiro para o ditador.

E quem pudesse não gostar, seriam outras escolas, que já poderiam estar de olho no mecenas para o ano que vem.

- O que eu ganhei do ditador?

- Ganhei o deslumbramento de uma Escola que passou soberana na avenida, apesar de tudo! Porque dos mágicos daqui não sai coelho da cartola. Só vão lenhos para o estrangeiro, com o qual vendem junto nosso oxigênio. Mas disso ninguém reclama nada, até morrermos sufocados.

Na mesma máscara negra que esconde teu rosto... Alto lá, cara pálida. O Buraco é mais embaixo. E muitos dos que cavaram poderíam ter sido nós mesmos, que somente os olhos e os ouvidos não vendemos, os dois de cada. Mas um sempre se negocia. É só questão de acertar o preço.