Vera Lúcia já estava casada há quase sete anos. O marido era até razoável, mas sentia um certo tédio, carente que estava de emoções fortes. Achava que a vida tinha mais a oferecer do que almoços nos fins de semana em churrascarias, férias em São Lourenço e sexo repetitivo com duração semelhante a uma viagem de metrô - Botafogo/Carioca - no máximo Uruguaiana, se bem que às vezes tudo acabava antes de chegar à Glória. Sentia-se descontente, só não sabia o que fazer para mudar.
Com este estado de espírito, ela, às 8 da noite, atende o telefone:
- Verinha?
- Sim.
- O negócio será hoje depois das 11. Você não pode deixar de ir. Vá de preto, de preferência...
- Quem esta falando?
- Aqui é o Basílio. Quem pediu para convidar você foi a Célia.
- Quem?
- A Celinha Meia-Taça, a dos peitinhos miúdos. Ela falou que você se amarra nestas coisas. Eu estou levando aquilo.
- Mas escute aqui, eu não sei ...
- O pessoal vai estar todo lá: o Serjão, o Serginho, o Espanador, a Paulete, que foi caso do Raposão. Você soube que eles romperam, não?
- Não, não soube. Para dizer a verdade, eu nem ...
- Pois é, o Raposão talvez vá, não deu certeza. A Paulete estará "alone". Ah, vão também a Mariúcha e o Braga. Vai pintar o maior lance.
Nisto, por uma armadilha do acaso, entra no quarto o marido.
- Tudo bem, daqui à meia hora me ligue, tchau.
- Com quem você estava falando?
- Com um colega da época da faculdade. Estava me convidando para um jantar de confraternização da turma. Ficou de me telefonar mais tarde para dar o endereço do restaurante.
- Ah, sei.
Apesar de entediada, ela era criativa. Raciocinava rápido.
Em frente à TV, Verinha, ansiosa, não con segue se concentrar. Tenta entender o convite e o que está se passando.Não podia ser a Célia da faculdade. Ela mora na Europa e não tem peitos pequenos. Terá voltado de lá e feito plástica? A festa, sim, só podia ser uma festa, deverá ser uma loucura. Vão estar lá o Serjão e o Serginho - um dos dois deve ser parecido com o Charles Bronson, o Espanador - na certa, jornalista, a Paulete, agora sozinha e também o Braga com a Mariúcha, um casal de mente aberta, sexualmente falando. (Nestes créditos quem lhe despertou mais interesse foi o Raposão, que, infelizmente, segundo o Basílio, não deu certeza se iria.) Sua imaginação estava a mil.
Já é tarde. O Basílio não ligou de volta. Verinha pensa no pessoal que vai estar todo lá... as mulheres de roupas pretas... o negócio vai começar daqui a pouco e ele levará aquilo...
O marido, de pijama amarrotado, já esta roncando. Ela desperta de um cochilo. Acabara de sonhar que estava sendo possuída pelo tal Raposão. Pensa no pessoal todo lá - vestidos pretos pelo chão, na Celina Meia-Taça, de peitos miúdos, no Basílio e naquilo. Poxa, ele vai levar aquilo. O que ela estará deixando de participar? Decide que é melhor tratar urgente da sua separação. Estes acontecimentos são imperdíveis, ainda mais com a possibilidade da presença do Raposão.
(do livro de humor reflexivo "Sexo, Mulheres e Ecologia" de Luiz Otávio, agora em segunda edição)
--------------------------------------------------------------------------------
Com este estado de espírito, ela, às 8 da noite, atende o telefone:
- Verinha?
- Sim.
- O negócio será hoje depois das 11. Você não pode deixar de ir. Vá de preto, de preferência...
- Quem esta falando?
- Aqui é o Basílio. Quem pediu para convidar você foi a Célia.
- Quem?
- A Celinha Meia-Taça, a dos peitinhos miúdos. Ela falou que você se amarra nestas coisas. Eu estou levando aquilo.
- Mas escute aqui, eu não sei ...
- O pessoal vai estar todo lá: o Serjão, o Serginho, o Espanador, a Paulete, que foi caso do Raposão. Você soube que eles romperam, não?
- Não, não soube. Para dizer a verdade, eu nem ...
- Pois é, o Raposão talvez vá, não deu certeza. A Paulete estará "alone". Ah, vão também a Mariúcha e o Braga. Vai pintar o maior lance.
Nisto, por uma armadilha do acaso, entra no quarto o marido.
- Tudo bem, daqui à meia hora me ligue, tchau.
- Com quem você estava falando?
- Com um colega da época da faculdade. Estava me convidando para um jantar de confraternização da turma. Ficou de me telefonar mais tarde para dar o endereço do restaurante.
- Ah, sei.
Apesar de entediada, ela era criativa. Raciocinava rápido.
Em frente à TV, Verinha, ansiosa, não con segue se concentrar. Tenta entender o convite e o que está se passando.Não podia ser a Célia da faculdade. Ela mora na Europa e não tem peitos pequenos. Terá voltado de lá e feito plástica? A festa, sim, só podia ser uma festa, deverá ser uma loucura. Vão estar lá o Serjão e o Serginho - um dos dois deve ser parecido com o Charles Bronson, o Espanador - na certa, jornalista, a Paulete, agora sozinha e também o Braga com a Mariúcha, um casal de mente aberta, sexualmente falando. (Nestes créditos quem lhe despertou mais interesse foi o Raposão, que, infelizmente, segundo o Basílio, não deu certeza se iria.) Sua imaginação estava a mil.
Já é tarde. O Basílio não ligou de volta. Verinha pensa no pessoal que vai estar todo lá... as mulheres de roupas pretas... o negócio vai começar daqui a pouco e ele levará aquilo...
O marido, de pijama amarrotado, já esta roncando. Ela desperta de um cochilo. Acabara de sonhar que estava sendo possuída pelo tal Raposão. Pensa no pessoal todo lá - vestidos pretos pelo chão, na Celina Meia-Taça, de peitos miúdos, no Basílio e naquilo. Poxa, ele vai levar aquilo. O que ela estará deixando de participar? Decide que é melhor tratar urgente da sua separação. Estes acontecimentos são imperdíveis, ainda mais com a possibilidade da presença do Raposão.
(do livro de humor reflexivo "Sexo, Mulheres e Ecologia" de Luiz Otávio, agora em segunda edição)
--------------------------------------------------------------------------------