É O DEFUNTO DO CRÂNIO OU É O CRÂNIO DO DEFUNTO?
E você leitor (ainda) com vivo crânio, ousaria morrer com, digamos, ao menos certa classe cinematográfica?
Minha inspiração de hoje se baseia numa reportagem jornalistica que foi ao ar hoje pela manhã, na rede midiática da televisão brasileira, e que nos mostrou a situação dum cemitério municipal, muito famoso aqui de Sampa.
Nada novo quando comparado com o tudo do ..."ao povo , do povo e para o povo".
Decerto que não se trata do cemitério da classe política, classe que vive e morre e até ressuscita teimosamente sempre com muita classe.
Se trata dum cemiério nosso, o do povo mortal.
O quê?
Nesse mundo de hoje, pensem vocês que se morre com igualdade de classe! Estamos muito longe dessa morte mais justa...
Igualdade de classes é só retórica ideológica mesmo: tanto na vida e na morte, como na morte em vida e na pós vida-morte também.
Mas a reportagem é de assustar até os mortos!
Porque, se é que existe inferno depois da vida infernal de muitos vivos em plena morte, a cena mostrada deve ao menos contar com a arte cenográfica assombrosa das "gestões", frente ao tudo que se mostrou na reportagem aos sobreviventes da cidade que aniversaria daqui a dois dias.
Gente do céu urbano infernal: nunca vi algo tão desmantelado na vida dos mortos, e o humor está justamente aí: na fala do "gestor" do cemitério, tentando explicar o inexplicável, que de tão surreal para explicar o abandono notório da sua gestão, gaguejava e não dizia nada com nada ao repórter.
O tico desistiu do teco na gestão daquele cemitério cinematográfico ao melhor filme de terror...
"A culpa é do povo que não cuida"- dizia ele.
A indignação do âncora da programação era nitidamente de perplexidade.
Resumo da ópera de terror mortífero: naquele cemitério absolutamente nada é da responsabilidade do gestor...
Então a reportagem lhe perguntou assim: "e o crânio humano que decora uma das tumbas pelo lado de fora, de quem seria a responsabilidade?".
A resposta- Mas querem mesmo saber a resposta? Estão preparados?
"É tudo da responsabilidade do dono...."
E eu estou aqui até agora a pensar: responsabilidade de qual dono?
O defunto do crânio...ou o crânio do defunto?
Meu consolo: foi dito pela reportagem que a proposta do gestor é fazer atividade cultural ali.
Caramba...de tudo querem fazer cultura...até dos ossos expostos ás moscas!.
Deve ser algum cineasta amador querendo um boom de arte real do outro mundo!
O que seria essa atividade cultural? Mortos vivos em cena surreal?
Confesso: isso me preocupa muito...juro por Deus e é a Deus que peço por perene socorro a São Paulo.
Bem, falta de gestão a parte e por toda parte; câmeras em ação e humor triste a assombrar meu texto, eu lhes pergunto:
É aniversário de Sampa mesmo?
Aniversário de vida ou de morte da cidade?
Ou comemoração pós morte?
Desculpem, não é brincadeira, é que ando meio confusa...com as noções de vida (e da vida!) real da minha cidade.
Sorria!
Ao menos sorria o seu crânio!- que um dia, certamente, ele e você também serão filmados!