O MISTÉRIO DOS CHATOS
Hoje, resolvi falar sobre um tipo muito freqüente em nossas vidas:
"Os chatos".
Com certeza você lembrou de um milhão de situações em que eles já participaram da sua vida, e não estou aqui falando daqueles parasitas dos pelos pubianos, é claro, mas advirto com toda certeza, de que é muito mais fácil se livrar desses, do que "daqueles".
Não há remédios definitivos que eliminem de uma vez por todas os "chatos" da sua vida.Eles funcionam igualmente a uma doença crônica, com a qual você tem que se habituar e aprender a conviver.
O que observo, é que com o passar do tempo, eles vão adquirindo um requinte todo especial para exercer a sua "chatice",e acredito até que podem passar despercebidos por um curto período, que nunca é curto demais ,pois sempre é suficiente para lhe "tirar do sério".
Quem não se lembra de alguém que à simples pergunta convencional de "como vai?' lhe resolve contar todos os seus problemas dos últimos dez anos, mesmo que você lhe dê todas as dicas possíveis de que não está interressado no assunto?
Não sei o que acontece com os chatos!
Certa vez , ao fazer uma viagem,conheci um senhor que puxou um papinho dentro do avião, o que à primeira vista me pareceu muito bom, para que o tempo passasse mais depressa.Dizia-me que era nutricionista.
Deu-me uma verdadeira aula de metabologia e com ele até aprendi que não se devia misturar certos carbohidratos com determinados tipos de gorduras e proteínas, sob pena de favorecimento de obesidade.
Falava...falava...sobre todas as teorias e artigos mais recentes publicados no "New England Journal of Medicine",e fez questão de me presentear com vários "cartões" para que eu pudesse indicar seus serviços e o seu consultório.Confesso que fiquei, num primeiro momento, impressionada com tamanha sabedoria, mas logo percebi que o avião inteiro preferia fazer dieta em outra oportunidade.
Tudo isto poderia ser natural, se este senhor não pessasse por volta de cento e cinquenta quilos, o que na verdade, não lhe garantia as melhores credenciais.
Pensando numa teoria científica para explicar o comportamento dos chatos, fomos interrompidos pela aeromoça para o lanche costumeiro, que constava de deliciosos e saudáveis pãezinhos de aveia integral, frutas, sucos naturais,salada verde...e de perigosos sanduíches de croissant com salame e queijo ementhal,omelete na manteiga,pavê de chocolate com chantilly, acompanhados de refrigerante light.
Fiquei perplexa quando aquele gentil senhor, gentil...mas chato, colocou toda a porção saudável do seu lanche no meu prato, optando por se empanturrar com a porção de gorduras saturadas.
-Só tomo refrigerante light!!- justificou com a maior cara de pau-e eu,pelo menos pude melhor desfrutar daqueles pãezinhos inesquecíveis.
Terminada a refeição, desejei que o chato entrasse na"maré alcalina pós prandial", de preferência sem roncar e dormisse um pouco para me dar uma trégua.
Mera ilusão!Tão logo terminou a explanação sobre nutrição, começaram as aulas de geografia...aprendi tudo sobre a "Cordilherira dos Andes", seus mistérios, suas fronteiras, suas estórias e seu fascínio.Lá estava uma modalidade útil, mas cansativa, de "chato culto e sensível".
Sempre que eu esboçava um proposital "cair de pálpebras" cochilando um pouco,ele entonava a voz na tentativa de me manter firme.Que sufoco!
Lá pelas tantas, já no término da viagem,fez um comentário:
-Que viagem maravilhosa!Que aeronave estável, fazia tempo que não viajava tão tranquilo...tento disfarçar, mas morro de medo de avião!
Imediatamente após este comentário, e pela primeira vez ,enfrentei o maior vácuo da história da "minha aviação".A aeronave foi sugada por duas vezes consecutivas, para o desespero de todos.
-Este chato medroso desestabilizou até o avião, conclui.
Findada as seguidas turbulências , o avião iniciou as preparações para o pouso.Ainda tive umas aula breve sobre "flaps" e aerodinâmica.
Quando já em terra firme,rapidamente peguei minha bagagem de mão e literalmente fugi do chato, também metido a aeronauta!
Percebi que ainda me procurou no saguão do aeroporto,e de longe gritou:
-Não se esqueça de me ligar lá no Brasil.
Certifiquei-me de que havia jogado fora todos os seus cartões, torcendo para que aquele velho ditado fosse verdadeiro:
"Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar".
De fato, nunca mais encontrei um chato que pudesse concorrer com aquele.
Você se arriscaria a encontrar algum?