Indefeso em defeso?

Era o defeso. A margem do rio estava coalhada de guardas florestais, muito mais abundantes do que peixes nadantes. E com a indiferença que lhe era peculiar, o Nelson Pereira estava lá a pescar. Foi pego, com o balaio já carregadim de matrizes, e patrizes.

Não houve conversa ou negociação. Pescador e pesca, foram pro camburão, que rumou do rio à delegacia na cidade, distância duns dez quilômetros.

Nelson manteve-se calado e cabisbaixo. Até o meio do caminho, onde estava o povoado em que morava. Aí, soltou essa, choramingando:

Povo mardoso, esses guarda, num tem dó nem de morfético...

Mal ouvida sua última palavra, a viatura foi freada bruscamente, com a ordem de que ele se retirasse imediatamente e levasse consigo tudo o que era seu, balaio e peixes. Imediatamente.

E os guardas, antes de partirem, naquela aflição para encontrarem álcool, querosene e criolina ainda tiveram que ouvir:

- Os sinhô discurpa quarqué coisa...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 09/01/2015
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