COISAS QUE ACONTECEM

COISAS QUE ACONTECEM

Numa ligação cruzada, via celular, DOIDIVÂNIO trava o seguinte diálogo com DOIDIVÂNIA:

- Alô gata! Você ainda está aí?

- Estou firme e forte.

- Pelo jeito você está a procura de um cara jovem, forte, bonito e rico, certo?

- É isto mesmo! Que more no centro ou perto deste, tenha um carro importado e seja pegador. O jovem e forte podem ser abolidos. Se realmente for rico, também não precisa ser bonito. Só não abro mão de morar no centro e ser rico. Em último caso pode até ser impotente.

- Sou tudo isto! E de quebra dou três de pau dentro.

- Caramba! Então você é meu desejo de consumo.

- E você como é? Mora onde?

- Sou morena sensual, quase 1,70 m de altura; dezoito aninhos. Linda! E moro aqui junto da praça central.

- Quando nos encontramos?

- Que tal agora no shopping da zona sul? Na Avenida, bem na entrada para as lojas americanas?

- Certo! Vou estar no meu BMW azul. Vou vestido de terno bege com gravata também azul. Vou estacionar na sua frente. E você?

- Vou vestida toda de preto, inclusive sapatos.

- Estou indo. Tchau!

- Até lá! Tchau!

DOIDIVÂNIO gastou duas horas no trajeto, pois mora na periferia e sua brasília amarela estava sem combustível. Teve que vender o pneu de estepe para abastecê-la. Despreocupado, pois sua descrição nada tinha a ver com a realidade, estacionou numa rua lateral, pois não tinha dinheiro para o estacionamento. Contornou todo o prédio do shopping e saiu exatamente no ponto de encontro. Só que lá não estava ninguém com as características da sua gata. Estava sim, uma baranga baixinha, de uns quarenta anos, loira falsa e vestida como uma árvore de natal.

DOIVIVÂNIA, coincidentemente, também gastou duas horas no traslado, pois teve que pegar três ônibus lotados; já que também mora na periferia. Chegou pensando que seu milionário já não estaria esperando-a, pois foi burra; devia ter sugerido o encontro perto da sua favela. Mas fazer o quê? Ela não viu BMW nenhuma, nem ninguém jovem e bonito, de terno muito menos. Viu sim aquele quarentão, barrigudo, baixote; vestido de bermuda amarela e camiseta cavada, na cor azul.

Os dois se viram, olharam um para o outro...

Lógico, não se reconheceram pela descrição via telefone.

Mas quem não tem cão caça com gato.

Trocaram algumas palavras. Mesmo depois de contarem a verdade um para o outro se entenderam. Dez minutos depois estavam transando no banco traseiro da brasília, numa rua escura, ali perto.

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 11/12/2014
Código do texto: T5065781
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