Conversa de porteiro


- Bom dia.

- Bom dia, porteiro. Você pode interfonar para o apartamento 304 e dizer que eu cheguei?

- Claro! E quem é você?

- Não sei, eu não conheço você.

- Não, moço. Acho que o senhor não entendeu. Eu peguntei sobre você, e não sobre mim.

- Agora são dois? Olhe aqui, eu não sei quem é você e muito menos sei de mim. 

- Caramba, como o senhor complica! Eu só preciso saber quem é o senhor, do contrário não tenho como informar ao condômino do 304.

- Não venha colocar o senhor nessa conversa, Deus não tem nada a ver com seus problemas. Se você também não sabe quem é o senhor, vá até uma igreja, lá eles explicam. Aliás, vá embora porque eu não falo com estranhos, muito menos faço fofocas sobre mim, sobre Deus ou sobre quem quer que seja!

- Mas como posso ir embora? Estou no meu trabalho! 

- Vá embora assim mesmo, aproveite e chame um conhecido para interfonar para o apartamento 304.

- Isso é piada, não é mesmo?

- Tenho cara de comediante? 

- Tudo bem, moço. Esqueça o que perguntei, está bem? Eu só queria saber quem você é porque...

- Quem lhe disse que eu queria saber de você?!

- Moço, não foi ninguém que disse!

- Mentira! Você está acobertando ninguém, não é mesmo?! Pois diga-me onde ninguém mora, pois ele precisa saber que não pode sair por aí dizendo coisas que não sabe. Quem ele pensa que é pra ficar colocando palavras na minha boca?!

- Moço, o senhor é doido? Não sabe a diferença entre você e eu?

- Mas é claro que sei. Eu sou eu e você é você! Você é que não sabe de si, tanto é que já foi me perguntando quem é você. Oras, vá fazer terapia e descubra! Eu não tenho nada com isso! Tchau.

- Moço, aonde o senhor vai? O senhor desistiu de falar com o 304?

- Eu não sei onde o senhor vai, e acho difícil ele ter distido de falar com o 304 porque ele não é doido, só doido fala com números.

- Oi?

- E eu vou m'embora porque já percebi que não conseguirei falar com ninguém aqui! Eu preciso mesmo é interfonar noutro prédio que não tenha você como porteiro.