Como a mulher de Lot

É a história do padre dominador e daquela lindíssima e virtuosa garota.

A rapaziada ficava louca só de vê-la, ou de ouvi-la cantando no coro da igreja. E, sobretudo por esta razão, iam à missa, em massa.

O padre não permitia quaisquer liberdades à sua piedosa e fiel grei. Era um chicote divino. A observância do traje conservador parecia ser o dogma defendido com mais braveza. Ai daquela moça que ousasse uma tímida insinuação de decote, ou algo que se aproximasse dos joelhos...

E um belo dia, domingo do Senhor, enquanto o padre vai celebrando seu ofício, e o coro soltando a voz, eis que a nossa sílfide pisa numa tábua apodrecida do piso do coro e seu corpo literalmente vaza piso abaixo - ficando ela presa pelos quadris de Martha Rocha. E aquelas pernas de Esther Williams, nuinhas, a baloiçar em doce desespero. Num átimo de segundo, diante daquela cena que só ele vira, o padre troveja movido pela

ira divina:

- Quem se voltar e olhar para trás, tal como aconteceu com a mulher de Lot, que desobedeceu o Senhor e virou uma estátua de sal, estará condenado à cegueira para sempre, per omnia saecula saeculorum...

Ao que um marmanjo esperto, cutucou o colega ao lado com o cotovelo e sussurrou-lhe no ouvido, enquanto tapava um olho e ia virando a cabeça para trás:

- Amigo, esta é a maldição que escolho e me vale a pena arriscar um olho...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/11/2014
Reeditado em 19/11/2014
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