HUMMM... QUE DELÍCIA! CADÊ A MINHA CAIXA?

Na rua em que moro há uma feira aos domingos. Por sinal, muito boa. Desde criança eu acompanhava minha mãe e gostei desse hábito. Vez ou outra, alguém descuidado ou descuidada passa com as rodas do carrinho sobre seus pés que podem até rasgar seu tênis. Alguns vendedores mostram sua tendência a tenores diretamente no seu ouvido e há aqueles com aquela velha frase quando vê uma mulher bonita.

- Fruta boa! Mulher bonita não paga, mas também não leva.

Mas há também o lado bom, pelo menos assim eu vejo. No domingo dia 9 aconteceu comigo algo inusitado. Passei pela banca de batatas e cebola e dirigi-me para a banca de frutas onde deixo uma boa parte da minha aposentadoria, minha dieta alimentar é bastante rica em frutas. Chego cedo para escolher as melhores. Deixo as frutas em uma caixa e vou fazer o complemento (verduras e legumes) para depois voltar e conversar com outros colegas fazendo a degustação (melancia, abacaxi e melão). Nessa volta vejo uma bonita mulher na faixa dos 30, talvez até menos, provando pêssegos, aproximei-me para vê-la em mais detalhes e ouço: Hummm... Que delícia!

O feirante oferece um pêssego para eu experimentar e eu digo:

- Depois desse hummm eu não preciso nem provar, dê-me uma bacia que eu vou escolher (eu já tinha comprado os meus e estavam na banca de frutas). A beldade olhou para mim e eu lhe disse: - Seu “hummm” devia ser gravado. Nunca ouvi interjeição tão eloquente, com tanta espontâneidade. Vende e vende muito. Talento e beleza numa só pessoa.

O feirante aproveitou o gancho e disse: - O senhor não sabe, mas eu a contratei.

A musa sorriu com simplicidade e agradeceu os elogios, pagou a conta e seguiu. – Que mulher bonita, disse para mim o feirante. - É raro encontrar gente assim, tão simples, sabendo que é mirada até pelas próprias mulheres.

Aqui ela pagou e levou.

Segui meu caminho para a banca de frutas, já tinha encerrado as compras. Fui ajeitar verduras e legumes na minha caixa e... cadê a caixa?

Perguntei a um dos atendentes. – Onde está minha caixa?

- Taí Escriba (meu apelido).

- Tá não.

- Então o garoto levou junto com as caixas do Dr. Cláudio.

E agora como fico? Não eram apenas as frutas, havia também batata e cebola.

- As frutas você escolhe novamente, agora as batatas já eram. Nós vendemos frutas.

Chamaram o garoto, deram-lhe uma bronca. O garoto queria me pagar as batatas, os fruteiros também.

- Deixam isso prá lá. Todo mundo tem o direito de errar.

Quando eram 14:00 horas minha mulher me pergunta. – Santo, você não comprou batatas?

- Comprei sim, mas foram junto com as frutas.

A vantagem de se ter uma feira em frente de casa é essa. Voltei à banca na esperança de que o Dr. Cláudio tivesse percebido e devolvido. A banca já estava limpa e tudo guardado. Havia apenas dois melões para degustação que me foram oferecidos. A semana foi de bastante pêssegos e melões.

No domingo seguinte encontrei o Dr. Cláudio que me disse, rindo:

- Dei à minha secretária . Quanto o senhor pagou pelas batatas?

- Deixa isso prá lá, nem pensar, mas que foi engraçado foi. Vou até escrever uma crônica.

Dei o endereço do Recanto e ele já pegou o celular e abriu a minha página.

- Vou ler.

- Nesta semana eu publico, será o meu 99º texto.

Leitores, feira livre é um costume milenar que acredito nunca acabará, mesmo que se multipliquem os supermercados. Sou de opinião que deveriam existir mais espaços exclusivos para feiras livres para não atravancar o trânsito que cada vez está mais caótico. Quando nos reunimos lá na banca, saí tantos assuntos como em salão de barbeiro, botecos, etc. Assuntos até importantes, pois, reúnem-se médicos, dentistas, economistas, professores, comerciantes, etc. É também um espaço cultural.

SANTO BRONZATO em 16/11/2014.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 16/11/2014
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