Com Deus não se brinca
Os tempos eram de pre-Obama, bem no auge da guerra fria. Um determinado indivíduo havia passado por uma operação delicada e, por um largo tempo, dado como morto. Mortinho da silva. Mas, por alguma razão, ou falta dela, ressuscitou, à vida voltou.
E desse fato, no ato, conta a mídia tomou. Por tudo quanto era canto só nisso se falou. Até que o assunto esgotou.
O ressuscitado, contudo, embora com tudo, nada usufruiu do milagre, em termos pecuniários, com toda aquela zona, tava na lona.
Aí lhe veio à cabeça um plano magistral, que começou a por em execução numa visita que, a duras penas, conseguiu fazer ao papa, um Wojtila, na ocasião. Foi brevíssima a visita, mas o tempo suficiente para o nosso herói dizer a Sua Santidade que, tendo vivido neste mundo, e ido ao além e voltado, tinha como fato provado e consumado que Deus não existia. E mais, se a Santa Sé não lhe fizesse uma oferta compatível, em moeda tilintante, iria passar essa novidade adiante...O papa não hesitou, nem mais papeou. Cedeu. Afinal, Deus se escondeu, mas continuava sendo a Luz do mundo.
Passo seguinte, bolso forrado, eis nosso herege, no Kremlin, noutro frege:
frente a frente com Brejnev. E foi direto com o supremo de todos os sovietes:
- Deus existe! falou, de dedo em riste.
O velho Brejnev, pra não comprometer a atéia doutrina, e para comprar o silêncio do ressuscitado, mandou suspender a ajuda a Cuba, e não se enrublesceu em passar a grana pro interlocutor seu.
E eis que nosso amigo chega à Casa Branca, para uma entrevista privadíssima com Ronnie Reagan. Que o recebeu com matreiro sorriso, e se adiantando, preciso:
- Não venha me chantagear, meu caro. A CIA já me passou dados de suas molecagens. Daqui o senhor não leva um dólar furado.
Muito calmo e composto, o visitante, reclinou-se no encosto e disse com todo bom gosto:
- Mister President, posso desagradar a troiano e grego, mas só uma coisa tenho a lhe dizer:
Vi sim, Deus, e ele é negro.