O gosto que eu gosto
Vovó serve à mesa o bolo.
– E então...
– E então o quê?
– O gosto, Mariana.
– Ah, vó. Gosto do gosto.
– "Gosto do gosto"?
– É ué. É o gosto que eu gosto.
– Pensei que fosse dizer algo mais...
– Vó – a neta interrompe –, eu disse gosto, e duas vezes, e na mesma frase, e cada gosto com uma função morfológica diferente: verbo e substantivo, e com distintas funções sintáticas: núcleo do predicado verbal e complemento relativo, e ainda usei sujeito nulo mais referencial, como bem aprendi com a famosa linguista gerativa professora pós-doutora Salles. E na segunda frase, usei um como predicativo de um sujeito nulo menos referencial e outro como núcleo do predicado verbal, e, ainda!, em uma oração relativa. Será que só eu percebi isso?
– Não sei o que te deu na cabeça pra fazer Letras...
– Ora essa! Eu gosto.
Avó e neta comem todo o bolo e engordam 10 quilos.