DUAS ALMAS SE ENCONTRARAM
Duas almas se encontraram, traram, traram, traram, no portão do cemitério, tério, tério, tério, uma disse para a outra, outra, outra, outra:
- Cal?
- Jhon?
- Quê que tu tá fazendo aqui?
- Eu morri. Tava sabendo não?
- Meu amigo, tô sabendo agora.
- E tu?
- Sabe aquela ponte que desmoronou?
- Sei.
- Eu tava embaixo dela, meu irmão.
- Ui.
- E o que aconteceu com tu?
- Lembra da fábrica de fraldas em que eu trabalhava?
- Sim.
- Explodiu.
- Já sei, você tava lá dentro.
- Não, meu amigo, fui eu que explodi a fábrica.
- Eita! E o teu chefe soube disso?
- Claro! Por que tu acha que eu tô aqui?
- Mas me diz, como vai a família?
- Como vai eu num sei, mas amanhã vão pro meu velório. E o seu? Quando vai ser?
- Meu amigo Cal, o meu já acontceu há um mês.
- Ah, então tu já é do pedaço! E oque que se costuma fazer por aqui?
- Nada. Bem, as vezes a gente fica perambulando pela cidade.
- Mô chatice, hein?
- Pois é. Mas com um tempo a gente se acostuma.
- E onde você dorme, Jhon?
- Ora, na minha tumba. Tá vendo aquela ali onde tem escrito "bem feito"?
- Ah sim. E onde eu vou dormir até que façam minha tumba?
- Pode ficar comigo.
- Valeu Jhon Jhon. Mas me diz, o que vocês comem aqui?
- Essa é a melhor parte, almas não sentem fome nem sede.
- Legal!
- O que tu acha da gente dá uma voltinha por aí?
- Podemos atravessar paredes?
- Oshe, na hora!
E lá se foram, pela cidade, as duas almas vagabundas, bundas, bundas, bundas.