O cursilhista, a viúva e o galo
Era um moço decente que, nos anos cinquenta, ia de carro por uma estrada secundária, em meio a uma chuvarada de dar dó, até na fonte do Itororó. Cansado, andou procurando pousadas, nunca encontradas. Seu recurso foi bater à porta de uma casa fazenda, onde o recebeu uma atraente senhora. A dita tal, o recebeu com cortesia, porém o advertiu, como lhe soía:
- Meu caro senhor, lamento mas não posso recebê-lo em minha morada. Sou viúva, tenho uma honra a zelar, e a vizinhança pode, dalguma arte, suspeitar. Demais, sou casta, voto fiz e ainda por cima, tenho somente um quarto, com uma única cama de casal, onde durmo.
O chauffeur solitário, exausto, e inconformado, protestou:
- Senhora, minha senhora, prometo todo respeito, sou homem de família, digno e respeitador, pode ficar segura que minha intenção é a mais pura. Além de tudo, sou cursilhista, se quer uma boa pista. Ao cabo de prolongada discussão, venceu a razão, e o bom coração. Acolheu o passante.
Na manhã seguinte, a viúva oferece um lauto café ao visitante, a seguir leva-o ao quintal para ver a plantação e a criação, tudo vicejando, verdejando e se reproduzindo em bando.
Estarrecido e, picado pelo Cupido, com a beleza da anfitriã, que à luz do dia mais reluzia, e inconformado com a noitada que perdeu, nosso chauffeur tenta recuperar terreno:
-Mas senhora, como é possível manter um quintal com dezenas de galinhas, e um só galo...? Ele dá conta do recado?
- Ah, sim, ele dá muito bem, e lhe dou a pista se lhe convem: este meu galo, com sua divina crista, jamais, jamais, foi cursilhista...