A HERANÇA DE VOVÔ

A familia toda por ali.

Vovô estava pálido ali na mesa de jantar.

Porque não foi na capela?

Não tinha estas coisas na minha cidade. O velório era feito nas casas. Na sala da casa de vovó, estava então toda a familia reunida. Os que se falavam e os que estavam de mal, nestas horas ficavam todos de bem. Do que vovô morreu? Sei la na minha terra, dava uma sapituca na pessoa e morria. Simples

Mas o que eu mais gostava, nos velórios, era do cheiro do café, sendo coado na cozinha. Tinha café, pão, feito em casa com banha, bolo de fubá.

EU com os meus dez anos, via tudo de uma maneira, inocente. Não eu não era gulosa que ia nos velórios só para comer. Eu tinha sentimentos, ja escrevia naquela epoca.

Escrevia poesias. Bom eu achava que eram poesias....... Mas o velório estava bem alegre. Estava alegre de alguma forma para os

herdeiros. Eu ouvia, aqui, ora ali, cochichos. Quem sera que vai ficar com o sitio de baixo? E as vacas? Quem sera que vai ficar com o caminhão? Quem sera......... E assim foi a noite toda. Eu ali no meio

dos adultos, me sentindo importante. As crianças foram dormir. Os mais velhos também. Tinha gente dormindo por todos os lados. Eu ali firme, me sentindo..... Ai que começaram os buchichos. Eu era toda ouvidos. O dia amanheceu. Mais café, agora tinha leite,

fresquinho, tirado aquela hora. mais pão, mais bolo, tinha até pinhão. Então aquilo tudo, parecia não ter mais fim. Só fiquei mesmo, foi com pena de papai. Este sim, chorou. Tadinho, diziam que ele era o mais sensivel. Eu ja estava ficando com enjoos.

Aquilo não acabava mais. Fiquei deprimida. Sem saber claro oque era isto. Ninguem ligava para mim. eu comecei a pensar sobre coisas sérias.

Não deixaram que eu fosse. As crianças ficaram todas. Alguem me mandou tomar banho,era banho de bacia, com a agua esquentada no fogão a lenha. Alguem me ajeitou as roupas, me penteou...

Comecei a achar aquilo tudo sem a menor graça. Fiquei ali pensando, em quem ficaria com as vacas, sera que eu não teria mais leite para o café, das manhãs? Os outros dias foram todos estranhos dentro de mim. Sera que eu teria direito a alguma coisa na partilha? Não quis perguntar a ninguem. As pessoas adultas pareciam

desorientadas..... Ouvi minha tia comentando que sossego que a fazenda estava agora. Que sorte de quem fosse ficar, com as cabras, mais sorte ainda, de quem ficaria com as vacas... Mas ai tive uma luz, perguntar a professora.

Na aula, naquele tumulto de perguntas, me encorajei. Professora porque que quando o avô morre, os parentes ficam falando em partilhar os bens?

A professora me olhou, como se eu tivesse vindo de um, planeta, fora de órbita. Ai me justifiquei. É que na noite do velório..... e passei a descrever, tudo do café, do pão... E tudo oque eu falava, parecia, piorar a situação. Comecei a ficar sem jeito. Eu toda timida.

A a sala de aula virou uma confusão. os alunos, começaram a me chamar de gulosa, que eu não tinha sentimentos. Que o velhinho nem tinha esfriado e eu queria ficar com tudo. Tentei explicar, mas foi

em vão. A professora, mandou todos ficarem em silêncio. Aos gritos claro. Me mandou ir para casa, antes da aula terminar.

Dentro da bolsa um bilhete para minha mãe. Bem lacrado, achei melhor

não tentar abrir, ia piorar, mais ainda. Não sei até hoje oque tinha o tal. Mamãe leu, chamou papai, que leu e ficaram pensativos.

Daquele dia em diante, meus pais, começaram, a prestar mais atenção, na minha pessoa. A perguntar do que eu precisava, o que eu queria comer de doce. Comecei a estranhar o comportamento da familia. So sei que isto tudo, foi um pouco antes de me mandarem, para um colégio INTERNO...

CYNDYQUADROS
Enviado por CYNDYQUADROS em 16/10/2014
Reeditado em 03/08/2017
Código do texto: T5000890
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