Praia de nudismo
Pois bem, aqui estamos na portaria. Foi só circundar o morro, o barulho das ondas lá embaixo. Piiiip, piiiiiiiiiip, um negão de quase dois metros de altura sai da guarita, temos de conter o riso ao ver o cara peladão dos pés a cabeça.
- Pois não? – o homem não fala, troveja e juro, quase sinto o jipe vibrar com o vozeirão.
O Joninha mostra os convites, que sei lá como conseguiu, o guarda peladão examina atenciosamente, caminha para o portão, as coisas todas balançando e abre, dando passagem.
Sinto um frio na barriga e tenho certeza absoluta que tanto o Ditinho quanto o Joninha sentem o mesmo. Afinal de contas estamos entrando numa praia de nudismo e só o pensamento da mulherada pelada daqui pra lá, de lá pra cá ativa um princípio de ereção.
Estou exagerando! Não é uma ereção propriamente dita. Sei lá! Uma vibração! Uma coceirinha! Um repuxo nos nervos. Coisa assim.
Estacionamos perto da guarita e saímos tranqüilamente, esticando as pernas, dando uma ajeitada nos cabelos, uma puxada no shorts um pouco mais pra cima e. . . lá vem o negão!
- A partir desse ponto tem de ficar pelados! – e complementa:- É expressamente proibido roupas do portão para dentro.
Nesse instante xingo mentalmente o Joninha!
Ele é um amigo de longa data. Falar a verdade desde que me conheço por gente, conheço o Joninha, o Ditinho é mais recente. E sempre foi assim cheio de novidades. O tipo do sujeito que não trabalha firme, só faz bicos; foi casado quatro vezes e está no quinto; tem namoradas espalhadas na cidade; se quiser perder dinheiro é só emprestar para ele; bebe como se toda a bebida do mundo fosse acabar amanhã e vive falando palavrões. Um verdadeiro filhadaputa! Mas um filhadaputa amigo e gente finíssima!
Quando decidimos passar o fim de semana prolongado em Ubatuba, lógico que convidamos ele e sua cara metade, nesse momento as três tomando banho de leite para as queimaduras e passando creme hidratante no corpo todo.
Nossa intenção sem as patroas era dar uma esticada até a praia Vermelha espiar surfistinhas saradas, dar um teco na Santa Rita ver as mãezinhas e terminar o dia comendo siri e enchendo o rabo de cerveja na praia Grande.
Mas o cara é foda! Apareceu com os convites e topamos na hora!
- Não pode ser na praia?
- A partir daqui só pelados.
Fazer o quê? Tiramos a roupa, uma aragem fria gelando a bunda apesar de ser verão e demos dois passos.
Fui o primeiro a voltar para o jipe e jogar a camiseta no colo.
As mulheres não sei se sabem, os homens que me lêem sim, mas homem que é homem de verdade, tirando os urologistas, não olha a ferramenta de outros homens em hipótese nenhuma! Em nenhuma MESMO! Resta ver que nos banheiros públicos neguinho fica de olho nos azulejos( não sei porque se chamam azulejos se são brancos)e não ousam abaixar a vista um milímetro sequer. Conversa com o mijão do lado só generalidades. “Calor brabo, não!” Se for verão. “ Cara, mas esfriou demais!” se for inverno. Ou então: “ Bebi todas ontem à noite!” mesmo sendo lorota, como se fosse necessário explicar a urinama.
E agora, nós três ali peladões ia ser complicado conversar sobre o Corinthias o tempo todo sem nenhuma abaixadinha de olhar.
Sorte foi os cinco litros de vodka no banco de trás.
Dois litros e meio depois a coragem voltou e saímos.
De batepronto na praia, um casal de velhos, a mulher a cara da minha mãe junto uma menininha de no máximo 7 anos de idade. No ato procuramos a primeira moita e estacamos os três ali, igual coelho assustado, só as cabeças pra fora. As cabeças de cima, bem entendido.
Passado o perigo nos aventuramos, lógico depois de mais uma talagada de vodka que desceu rasgando. Mais a frente cinco moças esparramadas na areia. Duas de bruço, as outras tomando sol frontal.
Como quem não quer nada paramos, disfarçadamente olhamos as áreas de lazer, fazendo o tipo desinteressado mas a ereção foi inevitável. A mais de frente deu um sorriso sarcástico e alertou as outras:
- Novatos na área! – e indicando com o olhar as nossas coisas:- Aqui não pode isso não!
O “isso não” era as ereções e foi por isso que outro guarda peladão se aproximou da gente e nos mandou para a água.
- Até sossegarem! – resmungou ríspido. – Que aqui só tem família!
E foi embora sacudindo a bunda gorda.
Dez minutos depois, uma lazarenta duma câimbra nos pés, um medo desgraçado de algum tambiú entrar nalgum orifício errado( sei lá se tem tambiús no mar) minha ereção quase adormecida, não é que duas das meninas vieram mais perto da água e se deitaram de frente para a gente?
Estaca zero de novo!
Foi quando uma delas apanhou um bronzeador( até hoje fico pensando de onde tirou o desgraçado do frasco) e :
- Pode passar nas minhas costas?
- Que jeito, minha filha?
- Dá um pique até aqui que ninguém vê!
E foi assim que sentado na praia, depois de um pique de fazer inveja ao Ben Johnson, areia entrando nos mais recônditos lugares, pendendo o corpo pra frente quando vinha alguém de família, lambuzei a fulana de bronzeador,frente e verso, minhas pernas melecando de outra coisa, as duas rindo da situação aproveitando o que podiam , depois foram embora.
Algumas broncas do guarda depois, quando resolvemos dar uns roles pela areia ,também fomos embora, nos esgueirando pelas moitas, as ferramentas enrugadas, os litros de vodka vazios, todo mundo com cara de tacho e terminamos a bebedeira na praia Grande cobiçando as gostosas de biquines.
De volta para as patroas fiquei pensando no que o Ditinho filosofou na viagem de retorno.
- Companheiros, de duas uma: ou a gente não conta pra ninguém, mas pra ninguém mesmo que fomos numa praia de nudismo e não comemos ninguém ou inventamos que foi suruba a tarde inteira.
Depois coçou a cabeça e ponderou:
- Só tem um problema: se as patroas souberem da primeira hipótese vão gozar a gente o resto da vida e contar na roda de amigas. . . e nos ferramos de verde-amarelo! Já na segunda, o pau vai comer solto e largado e a bosta vai feder legal! E nos ferramos também!
E é por isso, só por isso que estou contando a história como se fosse ficção. E torcendo que minha mulher, se ler, pense que minha imaginação é que é fértil.
Ufa!