Muito cansado aqui.

Muito trabalho, muita canseira,

no dia, na ribanceira,

quando o sol mete as beiras

clareando pra esquentá,

o tempo ao trabalhar

numa sala a se passar

o tempo sem perceber

que depois do amanhecer

logo vem o anoitecer.

a Deus fico a perguntá

pra que tanto labutar

se daqui num vou levar

nada pro céu se eu for lá

de repente é madrugada

acordo vejo a estrada

pulo da cama ligeiro

pra tentar ser o primeiro

a chegar no meu terreiro

e começá a fuçar

as coisas que tenho lá

pra mode organizá

e nessa preocupação

nos pés me falta o chão

de tão urgentes que são

as minhas arrumação.

esqueço que tenho mulher

também dos filhos inté

de tanta coisa que é

pra eu resolver até

que em uma hora qualquer

um filho de uma égua quer

me levar pro cabaré.

aí penso eu Jesus

o home que lá na cruz

morreu pra me dar a luz

que eu preciso enxergar

pra nunca titubiar

e nem também vacilar

e sempre escorregar

das tentações que me vem

dos convites de alguém

que quer a mim desgraçar

me chamando sem cessar

pra mode eu fornicar

cás quengas que tem por lá

as dispois do labutar.

aí, Jesus, só você

pra mode me defender

das coisas que chego a ver

mulher a se oferecer

pagando se eu puder

e se o meu dinheiro der

tem delas que até em pé

se eu aceitar quiser

das coisas que ela quer

e se eu disser mulher

não posso eu te comprar

pois meu dinheiro não dá

querendo me discurpá

pra ver se ela se manca

e perde as esperança

de investir na balança

desse cearense pobre

que não tem nada de cobre

pois peço a Deus que não sobre

dinheiro pra vaidade

mais por infelicidade

a peste tem caridade

e diz: tenho piedade

e deixo pela metade

o preço que ia cobrar

pra contigo me espojá.

mais, sabe como o home é

não quer dizer a mulher

que não tá a fim inté

pra ela não ir pensar

que o cabra não quer gostar

do espojo que ela dá

e de ela sair comentando

pra fulano e beltrano

que você deu nela um cano

pra mode se discupar

deixa os otro a pensar

que você vai viadar.

Mas, tenho Deus pra rezar

a família respeitar,

minha mulher pra amar

e aos meus filhos que tem

pra deles querer o bem

e prover deles também

o que eles precisá.

enquanto a vida passa

vivendo nessa desgraça

fazendo rastro na praça

por causa da servidão

servindo a Deus ou ao cão

se cair na tentação

mas, com muita obrigação

pra garantir o feijão

da familia e dos mijão

inté chegar eleição

e manter a posição

de votar no meu patrão

e garantir o tostão

pra dismanchar tudo em pão

arroz, farinha macarrão

e outras coisas que são

carentes na refeição

até que os mininos cresça

e na cabeça apareça

os brancos do anoitecer

quando quase não se ver

por causa do entardecer

até um dia aparecer

sem a gente perceber

uma visita chegar

sem pedir para entrar

e de repente sentar

no leito do moribundo

que alguns dias no mundo

foi gente e agora é vez

de se levantar de talvez

pra nunca mais se deitar

ou mesmo pra se deitar

e nunca mais levantar

inter os vermes comer

o restante que sobrou

desse pobre sofredor

que não é merecedor

dos favores do Senhor

no tempo da aflição,

mas, que por ter compaixão

Deus, pai que bondoso é

pode aumentar nossa fé

e nos levar se quiser

para com Ele morar,

mas só se ignorar

as faltas que homem tem

que os anjos digam amém

na hora de viajar.

05/08/2014

CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 02/09/2014
Código do texto: T4947105
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.