AS GALINHAS ESTÃO VENDIDAS
Terezinha Pereira*
Luciano estava com uns doze anos, creio. Desde não sabia quando, costumava criar galinhas de raça, das mais comuns até às mais exóticas. Tornou-se conhecido dos criadores da região. Numa tarde, Luciano recebeu um telefonema de um fazendeiro paulista que encomendou-lhe seis casais, cada um de uma raça diferente, para levar para sua terra. Ficou combinado que Lu entregaria as aves ao comprador no sábado seguinte, num sítio de seus parentes, que ficava à beira da estrada, a uns poucos quilômetros da cidade.
No dia combinado, logo cedo, o menino tratou de pegar os galináceos. Nem deu importância a uma chuva que caía miúda. Juntou todos em um saco e dirigiu-se à rodoviária, para pegar um ônibus do meio-dia, que passava pela estrada que beirava o sítio. Ao comprar a passagem, o garoto descuidou-se e a boca do saco das aves abriu-se. Quando ele deu-se conta, as aves já estavam provocando uma folia na rodoviária e na praça de frente. O garoto deu então o grito:
_ Gente, gente, me ajuda. Essas galinhas estão vendidas!
Correria geral. De todos os lados, saiu alguém para ajudá-lo a recolher as aves. Os aposentados que estavam na praça jogando cartas, saíram na correria para ajudar na recuperação das galinhas vendidas. Um senhor segurou a boca do saco e foi cuidando das recuperadas. Dois velhotes, ainda bem que saíram prevenidos por causa da chuva do amanhecer, usaram os próprios guarda-chuvas na empreitada. Lu conseguiu reaver suas galinhas vendidas e ainda contou com a benevolência do motorista do ônibus, que partiu com um certo atraso, após acomodado o saco das ditas no bagageiro.
E foi só o ônibus andar alguns minutos na estrada, Luciano deu sinal de parada. Quando percebeu que era o garoto das galinhas vendidas que já queria descer do ônibus, o motorista não se conteve:
_ Menino, mas você vai descer é aqui? Está certo disso?