A assombração do Romildo
Romildo era meu primo segundo, por parte de minha mãe. Ele morava um pouco distante de nós mas sempre vinha até nossa casa para ouvir histórias e bater um papo. Minha avó contava lindas histórias e todos nós aguardávamos a noitinha chegar, para ouvi-la.
Porém, Romildo, como era bastante medroso, só ficava conosco até tarde, nas noites de lua cheia, pois tinha muito medo do escuro.
Um dia, tio Deco o enganou dizendo que era noite de lua e foi segurando Romildo até mais tarde. Com a casa fechada, o tal nem imaginou que a lua não era cheia. Não obstante o medo do primo, Deco disparou a contar causos de fantasmas e principalmente da Mula sem cabeça.
Contou que a Mula sem cabeça pegava os desprevenidos que andassem sozinhos sem cobrir as unhas e fechar os olhos, pois como era cega(sem cabeça), se guiava pelas unhas e olhos das pessoas. E foi salientando tudo o que a Mula fazia e até inventando coisas que nem fazem parte dessa lenda, só para assustar o coitado.
Minha avó, de vez em quando ralhava com ele, que parasse, para não chocar o Rapaz. Porém, meu tio que não presta até hoje, continuava e só parou quando a vovó perguntou ao rapaz se ele queria dormir aqui em casa, porque observou que ele estava com muito medo de ir embora.
Quando Romildo ia dar a resposta(certamente que era sim), Deco partiu pra cima dele com gozação, dizendo que Romildo era muito corajoso e jamais deixaria de ir embora só por causa de umas histórias. Com vergonha de admitir que estava com medo, Romildo resolveu ir embora.
Para chegar em sua casa, ele teria que atravessar as terras de meu avô, andar um pedaço a mais e passar em uma mata pequena que ficava próximo a casa dele.
Romildo era ligeiramente calvo e por isso usava um boné que nunca tirava da cabeça. Naquela noite, ao sair da casa do tio, foi embora pra casa, tremendo de medo. Tudo o assustava. A Coruja que piava, o Chora-lua, o Bacurau, o pio das cobras, a sinfonia dos sapos no brejo, a sombra das árvores e qualquer coisa que se mexesse ou fizesse algum tipo de barulho. Tremia tanto que chacoalhava suas calças e ficava com medo também, até do barulho do chacoalhar das próprias calças.
Foi muito difícil para ele entrar na mata. Era muito escura. A noite já estava escura, mas as estrelas iluminavam um pouquinho a região, que não tinha energia elétrica. Mas dentro da mata, nada iluminava seu caminho. Foi se arrastando até o meio da mata até que num dado momento, tropeçou em uma coisa muito grande que estava no meio do caminho. A coisa se levantou relinchando muito, ficando na ponta dos pés e jogando Romildo longe. Com a história da Mula sem cabeça na mente, e sem enxergar direito, por causa da escuridão da mata, Romildo reagiu gritando Mamãe! Muitas vezes. O choque foi tanto que caiu duro no meio da mata.
Deco, que imaginou que ele ficaria com muito medo, foi atrás do primo.Ouvindo a gritaria de Romildo,foi até a mata e encontrou a égua saindo da mata com o boné de Romildo nas costas e, preocupado com o primo, entrou atrás dele. Logo tropeçou em algo e apalpando-o descobriu que se tratava do primo desmaiado. Arrastou -o para fora da mata e pegando a égua, que era mansinha, o colocou sobre ela levando-o para casa.
A mata foi cortada naquela semana , porque Romildo se recusava a entrar nela de novo. Jurando que a Mula sem cabeça morava lá.
Quanto a Deco, não aprendeu a lição e continuou a perturbar o Primo com muitas histórias que lhes contarei em outras ocasiões.
Um abraço,
Nilma Rosa