O PÃO CARO DE SANTO ANTÔNIO
Bem, acredito que todo brasileiro já percebeu a carestia do nosso pãozinho de cada dia, e não é diferente comigo.
Aqui por São Paulo o fenômeno do preço do pãozinho assusta até Santo Antônio, o santo que está acostumado a distribuir seu pãozinho bento lá na sua consagrada festa que garante a fartura na mesa, a assustar qualquer outro santo que pense na santa multiplicação dos pães, o alimento básico que era o mais barato à saciar a fome de todos nós, multiplicação que político algum consegue mais fazer nesses dias de inflação...nem pedindo socorro a todos os santos super milagreiros.
Nós, donas de casa, gerentes que somos do tudo que se relaciona com o lar, hoje em dia temos que fazer "automilagres" da multiplicação de tudo, inclusive da fé de dias afortunados que nos permitam um pãozinho mais em conta por refeição, sendo que a três refeições por dia, como diz a nossa lei social do "ministério do gourmet digno", está ficando cada dia mais oneroso matar a fome de forma legal e digna.
Tem indústria famosa de pães, acreditem, que com a desculpa de que o seu pão é integral com ingredientes funcionais, chega a nos cobrar 20,00 reais ou mais pelo quilo do pão industrializado vendido nos supermercados.
Uma informação de consumidor: Pãozinho barato é aquele que custa 50 centavos a unidade, já fiz a pesquisa. Se for mais, desconfie do milagre.
Na intenção politicamente correta de saciedade, façamos a conta economica: a três pães por dia, (tá valendo ainda?) serão 90 pães por pessoa por mês, vezes uma média de quatro pessoas por família, 360 pãezinhos mensais , a um custo mínimo de 180 reais de pão por mês, uma pechincha de porcentagem do salário mínimo para saciar a fome frente à alta do nosso IDH.
Então, dia desses, num ato heróico de economia cidadã, recebi a feliz informação de que havia uma ponta de estoque de pães integrais perto de mim, logo ali, me deram o mapa, acionei o GPS, três quilômetros, poucos minutos, GPS que por aqui atualmente nunca sabe o roteiro correto, sempre alterado a cada dia pelas obras perpétuas das ruas... e assim sonheiem comprar pão a preço de pão e contar-lhes uma história feliz.
Relato que me perdi no caminho, perguntei "n" vezes de como me reencontrar e chegar aos pães baratos do meu sonho de consumo, peguei um trânsito infernal, feira livre fechando as ruas, caminhões quebrados e buracos no asfalto impedindo o trânsito local e depois de quase uma hora nas ruas cai totalmente perdida dentro dum acampamento de sem tetos.
Fui super bem recebida.
Contei a eles a minha maratona em prol dos meus pãezinhos mais baratos e eles foram super solidários com a minha causa alimentar.
Foram eles que me levaram à loja da ponta de estoque, logo ali, e confesso que me senti meio desproporcionada naquela minha ânsia por um pão mais barato, mas como somos todos iguais na fome, todos temos o direito de procurar a melhor maneira de saciá-la.
Minha saga ainda não havia terminado ali: enfrentei uma fila de mais de meia hora para pagar meus pãezinhos e quando cheguei no caixa não aceitavam cartão.
Contei meu parco dinheiro e ainda faltava algum. "E agora?", pensei.
O mais incrível: Uma das pessoas da fila prontamente completou o dinheiro que me faltava! "óia dona, pode levar seu pão!".
Saí dali esbaforida...eternamente grata e firme num pensamento cidadão: "o que não fazemos atualmente pelo nosso pão..."
Conclusão da minha economia: gastei um tempão (2 minutos viraram duas horas) , combustível a 3 reais o litro por três quilometros que viraram vinte, e ainda saí de lá com a super dívida de devolver o dinheiro do sofrido pão alheio, mas prometendo que ali voltaria para saldar o meu compromisso...
Foi o pão mais caro que paguei na vida...até então...
E o mais ilustrativo também.
Para quem duvidar, digo que é tudo absolutamente verdade.
Seria só comigo?
Em tempo, ao final dessa minha crônica: Já avisando Santo Antonio que, hoje em dia, nem o milagre do seu pãozinho bento, aquele que folcloricamente depois da festa é colocado dentro da lata do açúcar para termos dias prósperos, nos garantirá mais a fartura dos pães na mesa dos brasileiros...