A LEBRE AMERICANA E A TARTARUGA SOTEROPOLITANA

Certa vez, uma lebre americana, toda atarefada e investidora em Wall Street, recebeu de seu médico a terrível constatação: tinha o nível de triglicérides alto, o colesterol um absurdo, além de pressão alta. Recomendou-lhe que praticasse exercícios e emagrecesse.

“Mas como? Não tenho tempo; tenho que aplicar dinheiro na bolsa e avaliar os investimentos...”

O coelho doutor balançou a cabeça e reafirmou que tinha que relaxar e fazer exercício, senão ia explodir.

A lebre ficou matutando como iria fazer isso, até que viu um cartaz de uma tartaruga brasileira, do projeto Tamar, recém- demitida, pois suas previsões para a Copa deram errado(imaginem que disse que a Argentina seria campeã!). A tartaruga propunha um desafio, que seria uma corrida contra qualquer animal da Terra; acontece que a dita cuja era da Bahia, terra em que o pessoal costuma curtir a vida , sem pressa e sem culpa, na maior malemolência, à lá Dorival Caymi.

Vendo aquilo, a Lebre riu e pensou: “essa está no papo”, com o ego inflado desse tamanho, pensando na medalha e em se vangloriar para os amigos. Ao ver a concorrente, riu mais ainda e debochou: “Dessa aí eu ganho até com um pé nas costas”.

A tartaruga, toda bonachona e boa praça, ainda desejou boa sorte para o concorrente, como costuma acontecer com brasileiros: “ô, meu rei, que vença o melhor; é Gil, é Gal, é Bethânia, tudo lindo...”

Iam dar a largada, isto é, a lebre estava a postos, toda arrogante e competidora, olhava adiante e nem piscava; a tartaruga, porém, ainda cumprimentou dois compadres e tirou uma sonequinha, pois tinha acabado de almoçar; além disso parou para beber uma água de coco geladinha.

Deram a largada: a lebre sumiu, levantando poeira; a tartaruga perguntou : “ô, meu rei, já deram a largada? É tudo lindo”. Depois de um tempo largou, com aquele seu passo lento e cheio de dengo; a lebre, porém já tinha sumido no horizonte; a vitória era certa; já vislumbrava a chegada. Parou, olhou para trás e viu lá longe a tartaruga no seu passinho lento:” há, há, há, nunca foi tão fácil ganhar; só para humilhá-la, vou deitar aqui a dois passos da chegada e quando ela chegar perto, venço a corrida”.

Porém, a lebre acabou pegando no sono; quando acordou, viu que a tartaruga havia passado; levantou-se correndo, mas não deu tempo; a tartaruga havia ganhado! Não , não era possível; ela lera todos os manuais sobre como ganhar uma corrida, tinha um técnico, personal treinner; como aquela tartaruga subdesenvolvida ousava ganhar dela, uma lebre de primeiro mundo?

A tartaruga, rolou no chão com o casco pra cima, de tanto rir: “ô meu rei, não sabe que aqui em Salvador tem um ditado que diz: quem espera sempre alcança?” Mas acontece que a história é outra; ela chamou suas amigas; todas têm a mesma cara, e, cada uma ficou num ponto da estrada; foi só colocar uma perto da chegada e ganhar; não se esqueçam que estamos no Brasil, e , para tudo se dá um jeitinho!