O SUPER-ARTISTA

Sabe aqueles artistas de rua que desenham o teu retrato e cobram 20, 30 reais? Pois é. Pouco tempo atrás conheci um que fazia o maior sucesso. Ele cobrava bem baratinho: 10 reais o retrato em preto e branco e 20 o colorido. E pintava super-rápido. Em cinco minutos o retrato ficava pronto, e o resultado era uma perfeição... O povo fazia fila.

Ele usava um tipo de tribuna de orador, feita de madeira de caixote. Colocava o freguês sentado na frente. Ele ficava em pé, atrás da “tribuna”, e não deixava ninguém olhar de perto como ele trabalhava. Terminado o retrato, fechava a tampa da tribuna, entregava o retrato, recebia o dinheiro e atendia o freguês seguinte.

Fiquei intrigado e bolei um jeito de descobrir o segredo do rapaz. Combinei com dois colegas da faculdade, e, tudo ensaiado, fomos até onde o artista costumava ficar. Lá estava ele, atendendo alguns fregueses. Entrei na fila e meus dois amigos ficaram por perto. Esperamos até ele fazer uma pausa e entrar na lanchonete. Meus dois amigos foram atrás e, dentro da lanchonete começaram a discutir, a discussão foi se acalorando, começou a incomodar todo mundo e os dois estavam quase indo às vias de fato. Sempre caprichando na encenação, foram se aproximando do artista e envolveram o rapaz na discussão, para faze-lo distrair-se.

Aproveitei e fui olhar atrás da “tribuna” e descobri tudo: no lado de dentro, tinha um celular com câmera num buraquinho, voltada para o freguês, e tinha um notebook com a tela virada para cima. Por cima da tela, um vidro grosso, meio inclinado, fazia a mesa da “tribuna”. O artista tirava uma fotografia do freguês com o celular, a fotografia aparecia na tela do notebook, ele colocava o papel por cima do vidro e desenhava na contraluz. Por isso os retratos eram tão rápidos e perfeitos. O rapaz estava ganhando uma nota preta com o seu truque.

Lá na lanchonete, o artista percebeu que eu estava bisbilhotando e veio pra cima de mim: “Ei! Você não pode mexer aí!” Olhei bem nos olhos dele e falei: “Cara, descobri o teu segredo”. Ele ficou vermelho, branco, azul, roxo, verde... Eu falei: “Fica tranquilo. Não vou contar pra ninguém. E parabéns. Muito engenhoso!”

O artista sorriu amarelo e disse: “Pois é, e nem precisa de photoshop, não é mesmo?”

Marco Antonio Mondini
Enviado por Marco Antonio Mondini em 08/07/2014
Reeditado em 24/12/2023
Código do texto: T4874502
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