DOZE PIADAS
UMA DÚZIA DE PIADAS.
(Domínio público, recolhidas por Paulo Paiva, “Barnabé” e “Esmeralda”.
Versão poética de William Lagos, 28/4-7/5/2914).
PORCA GORDA – 28/4/14
Marquinhos, um menino da cidade,
foi passar as férias no sítio de seu tio,
nos meses quentes da época do estio,
para correr e brincar em liberdade...
Seu tio, com a maior cordialidade,
foi-lhe mostrar dos pintinhos cada pio;
as vacas e os cavalos... E então, viu
enorme porca, com porquinhos de verdade...
Ela deitada, os leitõezinhos mamando
e o tio lhe falou, todo orgulhoso:
“Você já viu uma porca assim tão bela?”
“Como assim?” – disse o garoto, duvidando,
“Assim tão gorda, com um leite tão gostoso...”
“Ora, tem doze assoprando dentro dela!...”
IOGURTE – 28 ABR 14
Chegou a loira e falou para sua amiga:
“Até que enfim, meu iogurte terminei!
Faz duas semanas desde que comprei,
nem sei se outro comer ainda consiga!...”
“Mas um conselho permite que lhe diga?”
“Claro, amiga, o que me diz sempre escutei...
Dê-me o conselho, decerto o seguirei...”
“É que comer muito iogurte cria barriga!”
“Compre menor quantidade de outra vez...”
“Mas, querida, eu comprei somente um!”
“Então, não entendi o que me dizias...
Não falaste em ter passado meio mês
a consumir só um potinho tão comum...?”
“É que dizia: consumir em quinze dias...”
PÁRA-CHOQUE – 28 ABR 14
Um motorista comprou um caminhão
e foi depressa à oficina de um chapista:
“Pinte: DEUS ME GUIA! Todo mundo avista
no para-choque a minha fé na religião...”
Feito o letreiro com caprichosa mão,
seu caminhão logo a seguir saiu da pista,
amassou toda a frente e o motorista
gastou uma nota no conserto da ocasião!
Ficou o veículo sem o menor sinal,
desamassado, pintado e num renovo,
mas a vida não perdeu só por um fio...
Quis pintar o para-choque no final,
mas decidiu-se por um dístico mais novo:
“Pinte agora: DEIXE QUE EU MESMO GUIO!”
DESAMASSO – 30 ABR 14
A loira vinha conversando ao celular,
enquanto dirigia, descuidada...
À frente, um caminhão deu uma freada
e ela nem teve tempo de parar!...
Ficou horrorizada por seu carrinho amassar;
desceu o chofer e ela mais apavorada!...
Mas ao notar que o caminhão não tinha nada,
ele brincou: “Dona, é só a senhora se ajoelhar
e o cano assopre do seu escapamento...”
A loira se ajoelhou e soprou forte,
mas o amassado permaneceu inteiro...
Uma outra loira chegou nesse momento:
“Mas você é burra, saiu loira, triste sorte:
tem de as janelas fechar bem primeiro!...”
PIADAS DO BARNABÉ I – 29 abr 14
O BARNABÉ CHEGOU NUMA VENDINHA
E UM MAÇO DE CIGARROS QUIS COMPRAR;
A DONA DISSE QUE IA MANDAR BUSCAR
E CHAMOU UM MENINO, DEPRESSINHA...
“DIPLOMA! VAI NA VENDA DA ROSINHA
PARA UM MAÇO DE CIGARROS ALCANÇAR
AQUI PRO MOÇO, QUE UMA PINGA VAI TOMAR...”
DISSE O GURI: “ESTOU INDO, VOVOZINHA!”
PERGUNTOU, INTRIGADO, O BARNABÉ:
“O MENINO TEM O NOME DE DIPLOMA?”
“NÃO, FOI APELIDO, SABE COMO É...”
“MINHA FILHA FICOU QUATRO ANOS ESTUDANDO
NA CAPITAL; GASTEI COM ELA ENORME SOMA...
E NA VOLTA, VEIO O GAROTO ME ENTREGANDO...”
PIADAS DO BARNABÉ II
O BARNABÉ IA LAMPEIRO PELA RUA
E VIU UMA MOÇA COM SUA CACHORRINHA.
ENTÃO DISSE: “COMO É LINDA SUA BICHINHA!
TÃO QUIETINHA! ELA NÃO MORDE, NEM ACUA?”
“LATE, SIM, QUANDO PULGA FINCA A PUA...”
“MAS É, DE FATO, MUITO BONITINHA...
TEM TELEFONE A SUA CADELINHA...?”
“Tem, mas não dou.” “por que, está de lua?”
“NÃO, MEU SENHOR, ESTÁ SÓ DE COLEIRA,
SE EU A TIRAR, VAI QUERER LHE MORDER...”
“POR MORDIDINHA É CERTO QUE EU NÃO MORRO...”
“OLHE, TEM VEZ QUE ATÉ LHE PONHO FOCINHEIRA...”
“MAS E O CELULAR DELA?” “NÃO PRETENDO LHE DIZER,
TEM COMPROMISSO COM UM OUTRO CACHORRO!...”
MEDIDA DE CANHA I – 29 ABR 14
O BARZINHO RECÉM HAVIA FECHADO;
CHEGOU UM BÊBADO, A BATER COM IMPACIÊNCIA;
O BALCONISTA JÁ NÃO QUERIA ASSISTÊNCIA:
“AQUI FECHOU! Vá ao bar lá do outro lado!”
“EU QUERO AQUI, QUE JÁ ESTOU ACOSTUMADO!”
E CONTINUOU A BATER, COM INSISTÊNCIA.
O GARÇOM JÁ O CONHECIA E, COM PACIÊNCIA,
ABRIU A PORTA PARA O CHATO DESGRAÇADO...
“O QUE É QUE VOCÊ QUER?” “EU QUERO CANHA!”
“POR QUE NÃO VAI PARA CASA? É MEIA-NOITE!”
“SE EU FOR AGORA, A MULHER VAI ME BATER!”
“SE BEBER MAIS, PIOR SOVA AINDA GANHA!...”
“AH, VENDE, VAI! ESSE FRIO TÁ UM AÇOITE!...”
“OLHE, AQUI DENTRO NÃO ME VÁ ADORMECER!...”
PIADAS DO BARNABÉ iv – CONT.
“SÓ QUERO PINGA, ME DÁ, NÃO VOU DORMIR...
ANDA LOGO, ME DÁ UM QUILO DE CANHA!...”
“MAS NUNCA VI UMA ESTUPIDEZ TAMANHA,
COMO É QUE UM QUILO DE CANHA EU VOU MEDIR?”
“ME DÁ UM METRO, ENTÃO!” VOLTOU A PEDIR.
ESSE BORRACHO ME ESTÁ COM ARTIMANHA...
VOU DAR UM JEITO DE ACABAR COM ESSA PATRANHA!
“POIS LEVE UM METRO!...” DISSE O GARÇOM, A RIR.
E DERRAMOU PINGA AO LONGO DO BALCÃO:
“VAI PEGAR COM A MÃO OU VAI LAMBER?”
“Quero tomar durante o meu caminho,
SENÃO EU FICO COM FRIO, Ó MEU IRMÃO!
ATÉ CHEGAR EM CASA EU VOU BEBER:
FAZ UM PACOTE, BEM ENROLADINHO!...”
PEDRICÍDIO I – 30 ABR 14
Eu canto a morte da calçada de pedrinhas,
bem preservada, ao sul desse Orfanato
São Benedito, hoje arrancada, triste fato,
dando lugar a lajotas comezinhas...
Talvez ao gosto da madre das freirinhas,
sem observar, bem em frente, o fim ingrato
que já sofreu um calçamento igual, barato,
cheio de rachas e com as pontas quebradinhas...
A de pedrinhas, seus desenhos numa cruz,
vermelha e branca, durou quase cem anos:
duvido que essa atual vá durar dez!
São lajotas de interior, o que conduz
logo a desgaste e escorregões insanos,
dando lucro tão somente a quem a fez!...
PEDRICÍDIO II
Será que, ao menos, as pedrinhas empregaram
para calçar o pátio do orfanato?
Caso o fizeram, talvez até me sinta grato,
mas é provável que somente as empilharam...
Os calceteiros que as calçadas trabalharam
morreram todos, sem deixar contato...
Num centro espírita, talvez, algum sensato
pode indagar se a outrem ensinaram...
Era a extensão mais bonita de calçada...
Haviam feito um firme contrapiso,
nos intervalos nem sequer crescia capim...
Foi a pretexto de progresso desmanchada;
já não encontro mais firmeza, se ali piso
dos próprio passos perdendo o rastro, assim...
PEDRICÍDIO III
Ficam falando em patrimônio preservar
e então chamaram, em gesto só retórico,
uma chácara como sendo o centro histórico,
até ônibus fornecendo, a transportar
tantas pessoas que encontrassem ali lugar,
para dançar em um carnaval simbólico,
longe demais do centro, um melancólico
lugar perdido, sem que a pé se vá chegar...
E então permitem esse imenso vandalismo,
velhas calçadas, de firme pavimento,
promessa paga feita ao gentil São Benedito,
por fiel antigo do bom catolicismo
e destruídas, sem pena ou sentimento,
por quem não teme do santo o olhar aflito!...
PEDRICÍDIO IV
Já nem recordo o número de vezes
que percorri estas ruas mais antigas,
minhas próprias sombras a entoar cantigas,
entre as pedrinhas perdidas tantos meses...
Pedreiro, evita que a lembrança leses
dessas eras mais amenas, mais amigas;
talvez a sombra de teus pais assim persigas,
escondidas sob as pedras que desprezes!
Prefeito eu fosse, mandaria consertar
cada calçada do verdadeiro centro histórico,
renovando seus desenhos de pedrinhas!
Porém duvido que alguém vá me escutar,
mesmo que clame, afinal, em grito histérico,
nessas calçadas que escutaram ladainhas...
IMPORTÂNCIA I – 1º MAIO 14
Na quinta série, falou a professora:
“Meus filhinhos, hoje será aula de história...
Qual personagem teve a suprema glória
de o mais importante ter sido, muito embora
fossem outros tidos por importantes na sua hora?
Há, por exemplo, o Almirante Andrea Doria,
Que na Batalha de Lepanto tornou inglória,
A invasão naval dos turcos, sem demora...
Mas ele foi tão somente um militar,
para o povo europeu muito importante,
que os invasores não entraram em suas terras...
Porém há coisas mais valiosas que o lutar:
Quero lembrar, por isso, neste instante,
Quem pretendeu terminar todas as guerras!”
IMPORTÂNCIA ii
“Alguém podia dizer que foi Leonardo,
de toda a Itália o mais célebre inventor;
que além disso, foi também grande pintor;
ou Shakespeare, que foi famoso bardo:
ou até Colombo, que velejou qual dardo
e que a América descobriu, com seu valor;
ou algum filósofo, cuja obra tem louvor;
ou um presidente que suporta grande fardo...
Mas nenhum deles é assim tão importante
como alguém que muito amou a liberdade
e por causa desse amor, sacrificou-se...
Quem saberia me nomear esse gigante,
que morreu por amor da humanidade
e que por ele toda a história transformou-se?
IMPORTÂNCIA III
E vendo a turma inteira silenciosa,
a professora, os querendo estimular,
cédula nova de dez foi acenar:
“Darei de prêmio à criança habilidosa
que demonstrar ser aqui mais estudiosa
e o nome de tal pessoa revelar...
Vamos lá! Quem é que vai acertar?”
Insistiu a professora, um tanto ansiosa...
Um dos alunos disse: “Tiradentes!
A senhora falou dele na outra classe:
deu a vida pela nossa liberdade!...”
“Muito bem! É o que diriam muitas gentes,
ainda que a sua importância não abrace,
inteiramente, a toda a humanidade...”
IMPORTÂNCIA IV
“Professora, então é a Princesa Isabel,
que dos escravos assinou a liberdade!
Tornou-os iguais a toda a humanidade,
quando pôs a assinatura num papel!...”
“Muito importante, também. Luiz Miguel,
mas existe alguém que tem maior bondade,
que é importante para todos, na verdade!...”
“É Jesus Cristo!...” – respondeu, enfim, Samuel.
“Mas, que bonito! Você é que acertou!
Fiquei surpresa!... Porém você não é judeu?
Mas esta resposta não vai contra suas fés...?
“Tome o dinheiro, que você ganhou...”
“Bem, acho mesmo que o maior era Moisés,
mas um bom negócio meu pai nunca perdeu!...”
TEARES I – 2 MAI 14
Dentro das roupas guardei o meu calor
e as dobrei, com cuidado, em meu armário,
como forma de expandir o meu salário
durante invernos de maior frior!...
Depois, vendi pelas esquinas, com valor,
as calorias de desgastado páreo:
quem sente frio, é meu freguês diário
e de sua grana repassa-me o sabor...
Tenho novelos muito bem fechados
desse calor dos dias de verão,
que conservei com naftalina perfumados
e no soprar da ventania, ficarão,
muito depressa, em suéteres trançados,
sem que de agulhas se precise lançar mão!
TEARES II
Dentro das roupas guardei o teu calor,
que contra ao peito deixaste com teus seios;
dois pequenos tições, ácidos veios,
duas picadas venenosas de vigor...
Perante meus mamilos, sem rigor,
se transmitiu além de meus receios,
cruzou-me a roupa; na carne, de alguns meios,
se inseriram, qual de adaga o executor...
Uma das brasas invadiu-me o coração
e lá se acomodou, como a senhora,
emprestando um novo ritmo e harmonia...
Enquanto a outra instalou-se no pulmão,
respirando, em vez de mim, a cada hora,
igual que lâminas de Lua em elegia...
TEARES III
E assim fundi, com o calor que conservara,
os fios de aço que de ti me penetravam,
qual tecelão dos cantos que brotavam
por essa dupla invasão que me alanceara...
Um manto duplo de renda assim formara,
com quatro braços que dois corpos abraçavam;
não mais vendi os meus calores que restavam:
nosso calor já de uma o outro contentara.
Sem que escapasse de mim um calafrio
ou que de ti surgisse mais tremor,
ambas as peles esfoladas num amplexo,
a expandir-se mutuamente, em vasto brio,
calor na vida e na morte do temor,
calor solar feito em lunar reflexo...
SIMPATIA I - 3 MAI 14
Saiu o caipira em mais uma pescaria,
Junto com seu vizinho japonês;
Com grande esforço, mas apesar de quanto fez
não pegou nada...
Mas seu vizinho, calmamente, prosseguia:
Chegou a agarrar algum peixe só com a mão:
“Como consegue pescar tanto, meu irmão,
sem vir nada para mim...?”
SIMPATIA II
“Ah, japonês vem pescar com simpatia
E só usa como isca um camarão...”
“Mas se eu uso a mesma isca, qual razão
para você pegar mais do que eu?”
E disse o outro, em oriental filosofia:
“É pela simpatia que eu consigo...
Você não tem, não consegue, meu amigo...
Não tem outra razão...”
SIMPATIA III
“Mas então, vê se me ensina a simpatia...”
“Olhe, eu conheço mulher muito bonita.
Nome não digo, não adianta fazer fita,
só conto o jeito...
Pego um saco de camarão, vou na guria
E lhe peço que nele dê um lindo beijo!
E depois beije o japonês no mesmo ensejo,
né? É só isso a simpatia...”
SIMPATIA IV
“Ora, eu também vou o mesmo experimentar!
Nem me precisa dizer o nome da mulher,
A minha esposa é a mais linda que se quer,
eu peço a ela...”
No outro dia, foi na peixaria comprar
Um saquinho de camarão e lhe falou:
“Dê um beijinho aqui...” A esposa se espantou:
“Pegou mania igual que o japonês?”
TREM E FANHOSO I – 4 MAI 14
Foi um caipira na estação de trem
e indagou do chefe da estação:
“A que horas sai o trem em direção
a Sum Paulo?”
“Fra Fão Faulo?” – disse o fanho – “A chente tem
às shete e meia... Fassagem no fichê...”
“Às sete e meia? Ainda é cedo, já se vê...
Compro mais tarde...
TREM E FANHOSO II
Já meia hora passada, ele voltou,
de seu lado, bem alegre, um garotinho;
e perguntou: “Qual é mesmo, meu padrinho.
o horário desse trem...?”
“O frem fara Fão Faulo?” o outro indagou.
“Fá lhe fisse... Fai fair às fete horas,
compre os filhetes fem fafer demoras,
fá no fichê...”
O TREM E O FANHOSO III
O caipira agradeceu e retornou,
mais outra hora depois, o garotinho
muito ansioso, a segurar pelo bracinho,
para não se perder...
“Doutô, discurpe, o sinhô já me contou,
mas da hora do trem já me esqueci...
Pode dizer, enquanto estou aqui...?
Depois, vou embora...”
TREM E FANHOSO I
“Feu afigo, está ficando infonfeniente:
O forário está ali, junfo ao fichê...
Fá até lá e o fenhor mesmo lê
fem infomodar!”
“Uai, me discurpe eu ter vindo novamente,
foi o garotinho que me pediu para voltar...
Ele adorou o seu jeitinho de falar...
Diga de novo!...”
TURISTAS I – 5 MAI 14
A Nova Iorque viajaram dois turistas
e se hospedaram no melhor apartamento
de grande hotel, com muito movimento,
que lá do alto a cidade inteira avistas...
Até o Andar Cento e Vinte, longas pistas
pelas escadas, em qualquer momento,
mas o elevador subia como um vento,
até lá em cima, das alturas nas conquistas...
Então os dois resolveram conhecer
essa cidade tão bem afamada,
mas lhes falou o rapaz da portaria:
“Olhem, já é tarde e devo-lhes dizer,
se não quiserem subir toda essa escada,
que o elevador vai ficar sem energia...”
TURISTAS II
“Após a meia-noite, hoje haverá um corte
até as seis da manhã; e o nosso gerador
não terá força para impelir o elevador
nessa subida de tão grande porte...”
“Tudo bem, somos dois caras de sorte;
só vamos dar um passeio ao derredor
e voltaremos bem antes, sim, senhor...
Para subir tanto, a gente não é forte...”
Mas tanta coisa viram, que atrasaram
e só chegaram no hotel às duas horas...
Disse o porteiro: “Mas não os avisaram?
Do elevador os serviços terminaram...
Os senhores não controlaram as demoras...”
E em duas poltronas os amigos se instalaram...
TURISTAS III
“Compadre,” então um deles começou,
“Quem sabe a gente não conta algum causinho
e os degraus vamos subir, devagarinho:
sem nem notar, a gente já chegou...”
Bem depressa, o companheiro concordou
e os mil degraus foram subindo, de mansinho,
contando histórias, abreviando seu caminho
e andar por andar, assim se conquistou...
“Cansei, compadre,” falou depois o primeiro.
“Faltam só dois... conte você uma piada:
sem nem notar, logo a gente alcançaria...”
“Eu vou contar,” disse o segundo, bem ligeiro,
“Mas você não vai achar graça de nada...
É que a chave... eu me esqueci na portaria!...”
TRATAMENTO I – 6 MAI 14
Houve um médico que recomendou beber urina
às infelizes que colocou em tratamento,
como receita para emagrecimento
e ainda foi obedecido – triste sina!...
O espertalhão chegava a vender tina
para adaptar ao sanitário, no momento
em que a bexiga dava atendimento,
quando esse líquido a bebida se destina...
E é claro que a mulher emagrecia,
pois infecção, certamente, contraía,
que por um triz, não a levava à morte!...
Mas como há gente estúpida no mundo,
que se dispõe a beber líquido imundo,
só por querer se apresentar de melhor porte!
TRATAMENTO II
É claro que já ouvi alguns relatos
sobre pessoas que não conseguem água
e acabam por beber, mesmo com mágoa,
a própria urina, rematando tristes fatos!
Presas em minas, no deserto sem contatos,
entre ruínas, de um furacão na frágua,
sem encontrar uma gota sequer dágua,
bebendo urina, apesar dos desacatos...
Nesses momentos de grave extremidade
que a tal recurso apelem, é compreensível,
mas não por simples exigência da vaidade,
a vida arriscando, sem necessidade,
tendo ao lado um suprimento inexaurível
desse líquido que satisfaz à humanidade!
TRATAMENTO III
Contudo eu, que já senti tanto calor
por menor que me seja o movimento
e tanto suo para meu tormento,
não aceitaria tal conselho do doutor...
Por mais que sofra no verão de tal ardor,
ou que a emagrecer um pouco seja atento,
eu não me animo a seguir tal tratamento:
tenho desgosto desse líquido fedor!...
E assim, mesmo sendo ruim a sorte,
sob a potência do sol mais inclemente,
outra atitude eu teria, meu senhor!
Para enfrentar a agonia dessa morte,
mesmo que beba urina essa outra gente,
o que eu faria é lamber o meu suor!...
APOSTA I – 7 mai 14
Quis a Esmeralda apostar com o Barnabé,
mas ele disse: “Não quero o seu dinheiro,
tudo que é aposta você perde, bem ligeiro...”
“Ah, porém esta você nem sabe o que é...”
“Pois entonce, diga, que vai perder até...”
“Eu aposto, como certo e verdadeiro,
quinhentos mangos, em jogo bem certeiro.”
“Tá bom, vou ver se a aposta fica em pé...”
“Eu aposto que você não está aqui!”
“Mas mulher, você está ficando louca?
Pois não tá vendo meus zóios e minha boca...?”
“Ganho os quinhentos, se provar eu consegui...?”
“Tá bom, então casamos o dinheiro,
depois não diga que eu sou um interesseiro...”
APOSTA II
“Então me diga, Barnabé, se agora
Você está lá no Rio de Janeiro...”
“Nem janeiro, nem tampouco fevereiro,
Aqui tô eu, bem lampeiro, nesta hora...”
“Diga uma coisa, você está em Pirapora?”
“Claro que não!” – disse ele, bem ligeiro.
“Está em Manaus, meu amigo seresteiro?”
“Também não,” respondeu sem mais demora.
“Bom, então, deve estar em outro lugar...”
“Mas é claro que por lá não andarei,
só não entendo adonde quer chegar...”
“É que a aposta, meu querido, já ganhei,
pois se você já está noutro lugar,
está claro que não pode estar aqui!...”
APOSTA III
“Espere aí, tire a mão desse dinheiro!...”
“Mas é meu! Você apostou e eu ganhei...”
“Mas, mulher, pois se eu nem apostei...”
“Vai me mentir agora, caloteiro...?”
“Você já concordou ser verdadeiro
estar noutro lugar, como provei!...
Os mil são meus, conforme lhe falei:
Ganhei a grana toda, por inteiro!...”
“Mas não ganhou, porque eu não apostei...”
“Como assim, trapaceiro vai virar?...
Espertalhão como você, eu nunca vi!...”
“Esmeralda, veja bem, não me enganei:
Você provou que eu estou noutro lugar,
como ia apostar, pois se nem estou aqui...?”