CUIÉJINHA
Logo que saíram da casa do fazendeiro, montaram e tomaram o caminho de volta, ele não se conteve e estourou com o outro:
- Compadre, desse jeito, eu fico até envergonhado com o dono da casa, uai...Não pode ser assim, não, sô !
O outro, muito mais velho, pareceu surpreendido. Tirou o chapéu, coçou a cabeça e perguntou:
- Mais quié qui foi queu fisso?
- Você não parava de olhar as pernas das dona, lá, da mulher do fazendeiro...Ela já estava até sem jeito, quando trouxe o café pra gente...
- Mais num é isso, não, cumpadi ! – retrucou o matuto – Eu tava mêmo era espiando os péis dela, sô ! Era as perna não !!!
- Os pés ?!!! Vomecê está ficando doido... ? E porquê isso?
- É que voscmicê num viu, cumpadi, mas a muié tava montada num xapatinho muito do isquisito...passava até um gatinho por baixo, uai ... um trem di doido !!!
Surpreso com a resposta, resolveu contemporizar:
- Nada disso, compadre... é uma moda. Coisa de gente fina... Povo da cidade é assim mesmo, meio diferente da gente, habituado a outras coisas...mais modernas...
O matuto rodou na sela, olhando para a fazenda, lá atrás, meio desconfiado, e disse
- É, cumpadi...pode ser mêmo, mais eu num agradei não...
Enchendo-se de paciência, o outro perguntou:
- Mas o que foi, cumpadre ? Só por causa do sapato da dona, não é razão...
- Mais num é só por modo disso, cumpadi...- respondeu negando com o dedão – Eu também levei o mor susto cum a cuiéjinha...
- Cuiéjinha?
- É, cumpadi ! A cuiéjinha qui a dona trouxe coa xicrinha do café... Fui passando o ôio e pensando: ”- Agora atolei mêmo ! Inté eu dar conta de beber o café cuma cuiéjinha desse tamanho...eu tô é perdido !!!” . Só despois qui eu vi qui num era pra nada, qui ninguém nem num usava...e fiquei mais assossegado...Mais gostar, num gostei, não, sô...
12/5/2007