UM URSO COM CRISE DE IDENTIDADE

Assim como existem pessoas que alegam nascer com sexo trocado, eu acho que nasci também com algo errado.

Sou mamífero, tudo bem, nasci urso, mas me considero um grande gato branco.

Lá onde nasci minha família comia bastante depois ia hibernar, ficando meses dormindo em uma caverna. Eu tinha insônia e ficava feito um urso na jaula (claro né?) andando pra lá e pra cá. Lá fora era um frio de lascar, não dava nem pra pensar em sair.

No verão ficávamos brincando na praia e olhando as baleias e morsas. Quer coisa mais sem graça que uma baleia jogando aquela aguinha pra cima feito um chafariz?

Quando a fome apertava, íamos lá ao Rio Chakachatna pescar uns salmões ou umas trutas. Era única coisa animada que podíamos fazer. O pior era viver fugindo dos esquimós que queriam nos comer literalmente e ainda usar nossa pele pra fazer um casaco; era o maior sufoco.

Um dia entrei clandestino em um navio petroleiro e só mergulhei no mar quando ele passava pela Bahia .

Ô delícia ...aquele monte de “sereias” tomando sol na praia, com um biquíni tão pequeninho que poderia ser até ser substituído por um band aid. Por falar nisso, onde foram parar os pelos delas? Parece que agora elas só têm cabelo na cabeça, houve alguma mutação genética aqui nos trópicos? Só tô perguntando porque lá no Alaska as nossas focas são bem cabeludinhas.

Adoro ficar em cima do muro, estou até pensando em virar político.

Gosto também de “pular a cerca” mas alguns maridos ciumentos botam os cachorros atrás de mim, parecem até os esquimós, que inferno!!!

Mas mesmo assim, tudo bem, vou ficando por aqui mesmo, não quero nem pensar naquele frio lazarento lá do Polo Norte.