E VOCÊ: "DO YOU SPEAK A GENUINE ENGLISH"?

Ultimamente percebo que, sempre que me proponho a escrever sobre algo que me parece humor, logo perco a linha e descambo para certa "dor", porque na verdade, os subliminares de quem escreve, sempre tem um cenário ainda não muito bem explícito a quem se propõe a nos ler.

Portanto, cabe a quem escreve lançar as letras...e esperar que a dor ou o humor do leitor se pronuncie.

Então, certo dia, eu precisava trocar a pulseira de couro (ou dum produto similar de couro) do meu relógio e entrei numa relojoaria dum shopping que fazia o serviço.

Quem me atendeu foi uma garota muito amável, vinte anos talvez, bonita, boa postura, super interessada em fazer o serviço, que não seria dela, ela apenas recebia o cliente, mostrava as pulseiras disponíveis e encaminhava o pedido ao relojoeiro.

Antes um brevíssimo apêndice: nossa condição de mão de obra especializada hoje em dia é calamitosa, e vem numa crescente alarmante.

Vendedores de comércios reconhecidos como de boa qualidade sequer sabem sobre detalhes óbvios dos produtos ou dos serviços que comercializam.

Nada escapa da desqualificação da mão de obra entre nós, desde vender uma bala até um serviço de marcenaria.

Bem, ali na loja, enquanto eu escolhia a pulseira dentre uma infinidade delas que a garota me mostrava, eu ouvi algo exatamente assim:

"olha dona, essa aqui é da "marca genuine". E continuou expressiva e convincentemente:" Genuíne é a melhor marca de pulseiras de relógios que existe em todo o mundo, essa marca tem nossa garantia total, a senhora pode ficar sossegada. Qualquer problema é só voltar aqui que, se precisar, nós trocamos por outra, mas isso nunca aconteceu com essa marca, e esse seu relógio merece uma marca mundial como a nossa, a marca genuine".

Bem, desconfiei da tal marca só com meus botões, fiquei meio sem graça e pedi para conhecer a pulseira da marca mundial " genuine", só para me certificar da minha desconfiança linguística.

Claro, não se tratava de marca comercial, era apenas o adjetivo da língua inglesa que qualificava o couro do artigo pulseira como real: "genuine leather"-couro legítimo.

Não falei nada a princípio, apenas me solidarizei com a situação do nosso país.

A garota não tem culpa, a culpa é toda nossa, é holística, é do abandono crônico da nossa educação e da boa formação profissional que já pontua dificuldades nas situações mais simples do dia-a dia.

Percebia-se claramente que ela queria muito vender, ela precisava vender, e a cena, embora fosse algo engraçada e inédita, também era subliminarmente muito triste.

Dia desses, vendo uma reportagem sobre o ensino dum "fast" inglês para copa do mundo de futebol, esse que tentamos ensinar ao comércio a toque das "bolas nem sempre genuinamente para dentro", peguei carona no acontecido comigo e resolvi escrever.

Que triste. Como fazemos tudo de qualquer jeito...tudo no improviso amadorístico das horas.

No caso da menina da marca "genuine" eu, muito delicadamente, decidi lhe explicar do que se tratava.

Senti que não era justo deixar a garota sem a informação para que prosseguisse no seu engano.

Ela me agradeceu, percebi que ficou feliz em dobro, porque, além do seu mais recente aprendizado, também levei a sua melhor pulseira da marca mundial "genuine".

Ela cumprira a sua missão de vendedora, e quem sabe, eu cumprira a minha...já que dizem que nada nessa vida é por acaso.

Por acaso também não é o que vivemos por aqui...

Porque legítima mesmo era a condição genuína daquela garota: ela genuína e arduamente ali defendia a bandeira do seu trabalho e do seu sustento digno.

"Genuine" sim, deveria ser a nossa marca social em tudo: legitimidade obrigatória em todos os setores da vida cidadã verdadeira.

Dentre tantos comércios internacionais da boa fé, do que inclusive deveria ser genuinamente mais voltado para o crescimento humanístico do planeta, eu pergunto:

Diante do atual cenário social pulsante, qual será o nosso futuro frente ao nada genuíno "trade marketing" da imagem que tentamos vender ao mundo?

"Do you speak a genuine english"...para responder numa língua universal para que o mesmo mundo possa nos entender?