SERIA ENGRAÇADO SE NÃO FOSSE TRISTE...

Quando criança, tinha uma vizinha cuja casa tinha um enorme quintal, com vários barracões que ela alugava para famílias pobres. Dentre essas famílias tinha um pobre trabalhador braçal que vivia em um dos barracões com a esposa e cinco filhos pequenos. O barraco tinha apenas três cômodos: Sala, quarto e cozinha, viviam todos “empelotados” ali. Viviam em uma pobreza franciscana. Para uso de todos os inquilinos havia somente uma latrina nos fundos.

Na família havia um menino mais ou menos da mesma idade que eu. Certo dia, estávamos brincando com bolinhas de gude perto do barracão deles. Foi chegando uma senhora com uma criança nos braços e acompanhada por outra maior. Travou com o chefe da casa o seguinte diálogo:

-Tarde, compadre.

-Tarde, comadre.

-Compadre, tenho um problema...

-Um só, comadre? Eu tenho muitos...

-Seguinte compadre, minha mãe ta doente lá em Moravânia, e eu estou precisando ir lá visitá-la, queria pedir ao senhor e a comadre para olhar o Zézinho seu afilhado, enquanto vou lá...

-Impossível, comadre, olha só o tamanho do barraco, vivemos todos amontoados aqui, á noite é colchão esparramado pela casa toda...E mais, é pouca panela pra encher e muita boca pra comer...

-Ara, compadre quanto a comer não se preocupe, o Zezinho come muito pouco.

Aí o coitado arrematou:

-Nós também, comadre, nos também comemos muito pouco e não é por falta de apetite não...

***

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 26/05/2014
Reeditado em 26/05/2014
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