OLHA QUE TRÓICA (*)
Era uma vez um velhote
Com um burro de se ver
Foi à estrada co rapazote
Para na feira o vender.
Pôs o rapaz no jumento
E os três lá foram andando
Alguém lhes diz num lamento
- Ó velho, tu estás brincando.
Logo o velho, pesaroso,
Trocou co rapaz, pois então,
- Ó Zeca, tu estás lustroso,
Desce-te lá para o chão.
Outro alguém os viu passar
Que de imediato exclamou:
- Olha o rapaz a penar,
E o velho que tresloucou.
Sem saberem o que pensar
Bem depressa se lembraram
Vamos os dois cavalgar
Pois já todos se fartaram.
Mas um grupelho da aldeia
Ao verem o burro coitado
Logo tiveram uma ideia:
- Levai o jumento ao costado.
Então o rapaz e o velho
Tomaram a decisão
- Seguiram o bom conselho
Co burro em carregação.
Quando chegaram à feira
Foi uma risota pegada
Nunca se viu tal maneira
De ideia assim depravada.
Então os dois frente a frente:
- Puxa vida, ó diabrura,
Nunca ninguém está contente
Isto é um mundo de loucura!
E assim vai esta moenga:
Em casa onde não há pão
Só se ouve lengalenga
Mas já ninguém tem razão.
Toda e qualquer aparência
Com a nossa realidade
É apenas coincidência
Pois nada tem de verdade!?
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA
(*) – Adaptação da fábula de Esopo