OLHA QUE TRÓICA (*)

Era uma vez um velhote

Com um burro de se ver

Foi à estrada co rapazote

Para na feira o vender.

Pôs o rapaz no jumento

E os três lá foram andando

Alguém lhes diz num lamento

- Ó velho, tu estás brincando.

Logo o velho, pesaroso,

Trocou co rapaz, pois então,

- Ó Zeca, tu estás lustroso,

Desce-te lá para o chão.

Outro alguém os viu passar

Que de imediato exclamou:

- Olha o rapaz a penar,

E o velho que tresloucou.

Sem saberem o que pensar

Bem depressa se lembraram

Vamos os dois cavalgar

Pois já todos se fartaram.

Mas um grupelho da aldeia

Ao verem o burro coitado

Logo tiveram uma ideia:

- Levai o jumento ao costado.

Então o rapaz e o velho

Tomaram a decisão

- Seguiram o bom conselho

Co burro em carregação.

Quando chegaram à feira

Foi uma risota pegada

Nunca se viu tal maneira

De ideia assim depravada.

Então os dois frente a frente:

- Puxa vida, ó diabrura,

Nunca ninguém está contente

Isto é um mundo de loucura!

E assim vai esta moenga:

Em casa onde não há pão

Só se ouve lengalenga

Mas já ninguém tem razão.

Toda e qualquer aparência

Com a nossa realidade

É apenas coincidência

Pois nada tem de verdade!?

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

(*) – Adaptação da fábula de Esopo

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 30/03/2014
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