SANTADA VII - DÁ-LHES... BORRACHUDOS

Esta pescaria aconteceu no em 1968, num feriado prolongado de 7 de setembro. Apesar de haver pescado meu primeiro peixe aos quatro anos de idade, nessa época eu não pescava com frequência, nem hoje, mas não perdi o gosto pela coisa.

O trecho do litoral (atual BR 101 – Rio-Santos) que vai de Parati a Angra dos Reis, naquela época era feito por uma picada sem pontes e, quando havia, era uma pinguela dupla (lembro-me de apenas uma sobre o Rio São Gonçalo). De sorte que quaisquer chuvas deixavam intransitável a estradinha, pois os veículos tinham que atravessar os rios que não eram poucos e alguns até com profundidade que não davam chance a carros baixos. Mesmo sem chuvas, automóveis como o fusca, tinham água pelo motor. Já caminhões, caminhonetes e Kombis passavam quando não chovia.

Após descermos a “picada” na serra que ia de Cunha a Parati, armamos acampamento a 32 quilômetros de Parati muito próximo das margens do rio São Gonçalo, onde abrimos uma clareira junto de muitas pitangueiras e cactos numa praia de tombo. Um pouco mais a frente, após a pinguela sobre o rio, havia uma vila de pescadores.

Aquele foi o meu, vou dizer nosso, batismo de fogo, pois devíamos ter passado repelente, quando demos uma parada em Parati, éramos sangue novo para os borrachudos da região. Além das pernas, um me picou a mão entre os dedos que me causou inchaço e dor que mal dava para segurar os apetrechos de cozinha. Depois que passamos repelente, as picadas acalmaram. As pernas estavam inchadas, mas dava para caminhar. A coceira é que incomodava e muito. Chegamos até a pensar em bolar um traje leve para uma próxima vez, pois o calor era muito forte e ficar com calça e camisa era bastante incômodo, porque o efeito do repelente em aerossol era pouco duradouro. E dá-lhe borrachudos!!! Eram ferozes e ponha ferocidade nisso, eram verdadeiros vândalos.

As tarefas no acampamento eram bem divididas. Eu cozinhava, meu sobrinho ajudava e os outros quatro lavavam a louça e faziam a arrumação. Logo depois do almoço, vimos o patriarca com um capote preto. Ouvimos no radio que a temperatura na cidade do Rio de Janeiro era de 39 graus. Onde estávamos não deveria estar muito diferente. Perguntei-lhe:

- Ei! O que é isso, ficou “patzo” com tanto calor?

- Vou passar um “telegrama”. Este capote é para me proteger dos borrachudos.

Foi só gargalhada. Quando o velho se agachou no “sanitário” ficou parecendo uma perfeita andorinha chocando. Não escapou da comparação e a partir daquele momento ficou apelidado de “velho andorinha”. Gostando ou não, o apelido pegou porque caiu perfeitamente. Pena que não fotografamos, pois era digna de um pôster.

Qualquer dia eu falo mais dos peixes, mas nesta pescaria muitos foram pescados. Passamos uma tarde limpando e salgando, mas no dia seguinte foi a maior decepção. A cachorrada da vila próxima fez a festa na madrugada. Perdemos todos os peixes. Durante dois dias não apareceu cachorro algum para que tomássemos providências. Ficamos sem sal e alimentos. Eu estava com mãos e pernas inchadas e os demais também estavam com lesões causadas pelos borrachudos, então resolvemos levantar acampamento, pois o tempo de volta sem incidentes era de oito horas. Foi aí que alguém cuja identidade vou preservar contou que logo que chegou e foi fazer o seu xixi, um borrachudo o picou no membro sagrado que se não fosse pela dor e coceira ele gostaria que permanecesse daquele jeito. Rsrsrsrsrsrsr!!!

Eu fiquei imaginando comparando com o “estrago” que aconteceu com minhas mãos e pernas e então falei:

- Com essa ferocidade toda até de anjinho barroco ficaria “talentoso”!!!

SANTO BRONZATO em 18/03/2014.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 18/03/2014
Reeditado em 20/03/2014
Código do texto: T4734055
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