FAIÔ

Chegou em casa com a prova de história nas mãos. Um adolescente de 17 anos, magricelo, com espinhas no rosto, lápis preto nos olhos, camisa de rock, calça rasgada, franjão cobrindo os olhos e um pince no nariz. Mostrou à mãe o quanto era um aluno dedicado.

- "D-" José Augusto?

-Mãe, é Guto.

- Essa já é a oitava vez que você me vem com um "D". Não consigo entender!

-Eu que não entendo como ainda se surpreende.

-Olhe aqui, é melhor você se dedicar mais ou então... vai ficar sem celular pro resto da vida!

-Não esquenta, o professor me deu uma última chance. Só preciso fazer um texto de cinco páginas sobre Martin Luther Kin... E alguma coisa aí.

-Que bom.

-Agora eu vou passar na casa da Marta pra pedir que ela me faça.

-Como é?

-Não esperou que eu mesmo fosse fazer isso? Não é mãe?

-Pois você vai! Este é seu castigo, fazer seu próprio dever!

Ele então foi obrigado à fazer o dever, sem a ajuda de ninguém. Sentou em frente ao computador e começou a escrever.

De hora em hora a mãe ia até o quarto do filho só para ver se ele

estava cumprindo com seu dever e ele parecia muito concentrado, surgia a cada minuto uma ideia nova para ele escrever. Até parecia que ele realmente sabia quem foi Martin Luther King.

A mãe estava tão orgulhosa que até se emocionou, era a primeira vez que o filho usava o computador para estudar. Passam-se duas horas, três horas, quatro horas... Finalmente, já com os olhos vesgos, ele terminou de escrever. Os dedos doíam, mas ele estava muito feliz com seu trabalho. Ficou só admirando, não sabia que era tão inteligente assim!

Agora, era só salvar!

-Aperte o botão... Para salvar!

E lá vai ele, com cara de tacho, em direção à mãe. Deita na perna dela e começa à chorar.

-O que foi meu filho? O que foi?

E ele responde soluçando de tanto chorar:

-E-rro quatro-cen-tos e quatro mãe! E-rro quatrocentos e qua-a-tro!