BIGURIGU

- Quem me ligou ontem foi o Pacheco, me convidando para um bigurigu na casa dele no sábado.
- O quê? Ele vai fazer um bigurigu, te convida e você ainda tem a coragem de me contar? Você se esqueceu de que é casado? O Pacheco pode entrar fundo num bigurigu, ele é desquitado, mas você?
- Não é nada disso. Ele vai reunir a turma da faculdade. Depois vamos ver boxe na TV, regado a cerveja.
- Nada disso, digo eu! Bigurigu, nem pensar. Pelo jeito você está doido para ir, imagine só... você no maior bigurigu e a pateta aqui em casa...
- Vai ser uma reunião da turma... as esposas não vão, claro!
- É muita falta de vergonha. Imagine só armar um bigurigu assim, sem mais nem menos.
- Calma. Você está entendendo tudo errado. Vou te explicar, o bigu...
- Não quero, não quero. E tira a mão do meu ombro. Onde já se viu, um cara casado num bigurigu? Essa é muito boa... isto deve ser produto da maldita análise que você se meteu. Na certa vão encher a casa com essas mocinhas à-toa para satisfazer as fantasias de vocês, no maior bigurigu.
- Fica quieta, mulher - ele falou ríspido, levantando a voz. Deixa eu te explicar o que é um bigurigu...
Nisto, toca o telefone. Era o Pacheco avisando que não ia mais fazer o tal bigurigu. Ele estava convidando para um sensacional rodízio de coxinhas, depois o tal boxe na TV e cerveja.
O marido desconversa, não dá certeza se vai. Desliga o telefone, olha para a mulher com ar de desânimo. Agora, além de esclarecer o que é um bigurigu, terá que mentir, porque ela não vai entender nunca o que vem a ser o sensacional rodízio de coxinhas. O melhor é desistir de uma vez de ir à casa do Pacheco e, no sábado à tarde, ao invés de jogar futebol com a turma, sair com a Soninha, porque já faz tempo que ela topou...

 

EVASIVAS

- Você já me traiu alguma vez?
- De uma certa forma, não.
- Quero saber de todas as formas. Não ape nas de uma...
- Certo. De uma maneira geral, não.
- Continua igual.
- Não propriamente.
- Por que o "propriamente"?
- Bom, abordando a questão de uma forma clara e circunstante, eu...
- Já não está claro. Nada de circunstante.
- Hum... eu... num nível de abstração, posso dizer que...
- Pombas! Que nível de abstração? O que é isso? Responda só "sim" ou "não", traiu ou não traiu?
- Trair mesmo, nunca.
- Sem o "mesmo".
- Então assim, como direi... praticamente não. Certo?
- Errado! Como praticamente?
- Pratico um certo grau, muitas vezes até elevado de...
- Para isto não tem grau ou graduação. É que nem ser veado. O cara é, ou não é.
- Ah, bom. Veado não sou. Garantido. Não há a menor dúvida.
- Não vem ao caso agora. Traiu ou não?
- Como não vem ao caso? Isso deveria ser da maior importância. Esperava que você desse um valor enorme, porque atualmente...
- Está bom. Dou o maior valor. Está dado. Voltando ao assunto, traiu? Sim ou não?- Olha só, veja bem....
- Sem veja bem, poxa! Responda sem evasivas, sem propriamente, introduções, figuras de lin guagem. Responda simples, no seco: sim ou não?
- Não, não te traí, prufft (suspiro profundo)...
- E este "prufft" quer dizer o quê? Hein?

Karpot
Enviado por Karpot em 27/02/2014
Reeditado em 04/04/2014
Código do texto: T4708552
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