E VOCÊ, É "EX" ALGUMA COISA?
Ele vinha para a sala meio cabisbaixo quando, enfim, resolveu contar para a turma o seu calvário daquele dia.
Estava inconsolável!
Sua expressão era dúbia: não sabia se ria para aliviar ou se chorava para desabafar, e mais adiante, resolvemos por ele qual seria o verbo a melhor encenar.
Então, assim que entrou no prédio, nos contava ele, encontrou com um seu ex- vizinho.
Sabem, "ex" de qualquer coisa é sempre problemas a vista, e claro, é melhor nunca baixar a guarda.
Mesmo assim, percebi que, num ato de gentileza humanística, deixou todas as possíveis diferenças de lado e condescendeu ao diálogo em nome dos velhos ,mas talvez não tão bons tempos assim:
-Olá, como vai o senhor? ele lhe perguntou todo sorridente a expressar sinceramente sua abertura para ouvir a resposta.
-Vou bem sim, e você?
-Nossa, quanto tempo, não?-perguntou assim, como quem não tem mais nada o quê perguntar.
-Sim, uns dez anos talvez...
-Quantos anos o senhor?
-Completo oitenta mês que vem.
-Oitenta? Puxa, o senhor está ótimo mesmo! Parabéns, está super bem na fita! Precisa me contar o seu segredo...
-E você quantos, mesmo? Bem, me lembro perfeitamente que você é um pouco mais novo do que eu...
-Sim, um pouco, tenho cinquenta e nove por mais dois meses!
-Cinquenta e nove? Puxa, como você se acabou...
Bem, nem preciso dizer que o acabado ficou aniquilado, preciso?
Tão mais acabado a ponto de entrar na sala e desabafar o ocorrido.
Não o deixamos chorar, e prontamente lhe escolhemos o verbo mais adequado;sorrimos todos em uníssono, ele mais ainda!
Perguntou várias vezes, um a um de nós, a se olhar no espelho, se por acaso alguém enxergava o seu "acabamento" tão intenso, maquiavelicamente declarado na cara dura pelo seu ex-vizinho de porta!
Ninguém notou nada.
Ele parecia, naquele instante, meio traumatizado...quiçá para todo o sempre...
E eu apenas lhe avisei, com todo o cuidado desse mundo, sobre a sabedoria cuidadosa frente aos contatos com"exs" alguma coisa.
Se é "ex"...arma a guarda porque lá vem chumbo grosso!
Não é por grave mal, apenas é da natureza meio maledicente de qualquer "ex".