SANTADA IV - FUJAM DOS PASSARINHOS

Semana passada quando tomava banho, embora o chuveiro estivesse no grau mínimo, para sentir a água fria, abri toda a torneira e a ducha não aguentou a pressão. Veio com tudo em minha cabeça, sorte que era leve e nada aconteceu. Mas pensei: Ainda bem que é um objeto limpo, já pensou se fosse m....? Então me lembrei de um dia quando ia para o trabalho no escritório no centro de São Paulo. Vestia muito bem. Terno confeccionado por um dos melhores alfaiates da região de Pinheiros, camisa de voil (le-se voal) feita sob medida por estilista, sapatos bem engraxados, gravata psicodélica, cabelo bem aparado, etc. Era um dandi, a profissão exigia e muito mais o nosso diretor. Não me lembro da data, mas foi antes de 1976. Desci do ônibus no vale do Anhangabaú, quando era terminal de ônibus e segui em direção à Av. São João, a glamourosa avenida de tão belas canções.

Passava por baixo de uma figueira, o fícus, em frente ao cine D. Pedro II, quando um bando de pardais pousou com sua alegria imensa, já vinham com seu tchi, tchi,ri, ri. Creio que não era canto de alegria e sim de aperto, pois, quando pousaram, todos, certamente, todos pardais abriram a cloaca e descarregaram, sem dó e piedade em mim, pobre cidadão. Apesar de ter bastante cabelo, a umidade atingiu o couro cabeludo. Os ombros do meu paletó ficaram salpicados de branco, minha camisa branca apresentava umas manchas esverdeadas. A gravata ficou mais psicodélica. Até um de meus pés foi atingido por aquele bombardeio. Lembro-me de que xinguei:

- Pardais FsDP!!! Só gargalhadas.

Uma senhora olhou para mim, levou a mão no peito e de boca aberta fez aquele famoso Oh! Discretamente conteve o riso. Tirei um lenço, enxuguei a cabeça, penteei o cabelo cheio daquela “brilhantina”, tirei o excesso do paletó e da camisa e com o paletó no avesso segui para o escritório na Rua Conselheiro Crispiniano em frente ao Quartel General. RSRSRSRSRSRS quando entrei no escritório. O pessoal rachou o bico de tanto rir.

- Que é, caiu na fossa?

Sem falar nada, fui ao sanitário e na pia de lavar as mãos, lavei a cabeça, a gravata, a camisa e o paletó. O sapato foi fácil. Papel higiênico molhado, isso é que os passarinhos tinham que ter usado, fsdp!!! Torci a camisa e fui para a minha mesa. O paletó ficou sobre a cadeira e como a camisa era fina demais, enquanto não secasse com o calor do meu corpo, eu parecia estar de peito nu com gravata. Foi um grande “mico”. Adiantava eu comprar uma camisa nova somente para trabalhar naquele dia todo deselegante. Preferi continuar elegante e “cuspido”.

Hoje quando ouço tchi, tchi,ri, ri, olho para ver se não estou embaixo de uma árvore.

SANTOBRONZATO em 12/02/2.014

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 12/02/2014
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