O jardim que ninguém quer
Depois de muito relutar resolvi atender ao pedido de um colega e escrever sobre
um assunto, que a maioria dos seres humanos detesta não por tratar-se de uma coisa
concreta e visível, mas por mexer diretamente com seus sentimentos mais profundos e
sensíveis e também por bolinar a integridade física dos ditos machões. Trata-se de uma
planta que até hoje nem mesmo o mais conceituado dos cientistas conseguiu fazer sua
definitiva classificação, e também não existe ainda um nome único para a mesma. Dentre
tantos apelidos ou nomes como queiram chamá-la os mais usados são: Guampa, galhada,
ornamento ou simplesmente chifres.
Por se tratar de uma planta ainda desconhecida visivelmente, não costumamos
cultivá-la, ainda que seu habitat preferencial e único é nossas cabeças, ou seja nossas
cabeças é seu jardim. É sem dúvida uma planta teimosa, pois mesmo que não a desejemos
a famigerada teima em nos perseguir e instalar em nossas bolas pensantes, doada pela
pessoa que jamais pensaríamos fosse a mesma a nos presentear com tal adorno. Mesmo não
conseguindo visualizá-las, sabemos que elas existem de várias formas, sendo as mais
conhecidas as retas, as ramificadas, as lisas, as curtas, as compridas e que muitas vezes
chegam a brilhar como se fossem de ouro.
Não fique triste, pois se ainda não teve o prazer de cultivar uma, tenha a certeza
que um dia, mesmo contra a tua vontade, cultivará um belo exemplar da tão odiada
plântula invisível. Calma, muita calma nesta hora, não sou eu que estou te imputando tal
condição, é simplesmente a lei universal da constante permanência dois a dois ou de uma
união não muito aceitável por um dos envolvidos no processo oriundo da frase, até que a
morte os separe. Se bem que eu sempre preferi que fosse assim: até que eu não te suporte
mais.
Mas, para aqueles que tem este jardim e não se importam de regá-lo, meus
parabéns, pois estão mostrando aos demais que é possível conviver com algo que sabemos
de sua existência, mas que não podemos nos livrar do mesmo, queiramos ou não, até
porque é uma das poucas coisas que jamais seremos ex e sim eternos.
Afaste-te de mim tentação imposta
Indesejável foste e sempre serás
Contra tua invasão estarei sempre alerta.
Pois sou ciente de que antídoto contra ti
Só existe um, minha convivência pacífica
Aceitação mútua e mente sempre aberta.