MEU ANJO DA GUARDA ESTRESSOU

Quando saí do trabalho, meu celular tocou, um número que desconhecia por completo. Em primeiro momento não atendi. Mas nem dois minutos depois tocou de novo. O mesmo número, alguém insistia em falar comigo. Pensei, se for importante, liga novamente. Foi o que aconteceu, cerca de dois minutos após a segunda chamada, voltou. Então era importante. Atendi. Era um tal de Rubão. Rubão? Queria falar comigo de toda a maneira, e não podia ser por telefone. Assunto de vida ou morte. Marcou um encontro para aquele dia às oito. Fui perguntar quem ele realmente era, mas não deu tempo. Do outro lado percebia-se que a respiração do tal do Rubão estava pesada e assoprada, aparentando certo nervosismo. Bem, teria que aguardar para a noite para as respostas.

Entrei no bar do Bacurau cinco minutos antes do combinado. Pedi um refrigerante e sentei-me à uma mesa. Esperei.

Haviam se passado quinze minutos, estava já pensando em ir embora quando um sujeito usando uma capa de chuva impermeável, de cor amarela, e na cabeça um chapéu escuro tombado até a testa. Se aproximou cuidadosamente, quando estava a meio metro da mesa, levantou o canto do chapéu. Acho que para se certificar se era eu mesmo.

Sentou-se, sem pronunciar uma palavra. Ficou assim por uns três minutos.

-Eu sou Rubão. –disse ele antes de eu formular a pergunta.

-Tudo bem? –disse eu.

-Bem... Quer dizer, não muito bem.

-Mas eu te conheço?

-Um dia ia conhecer.

-Não entendi.

-Passamos apuros juntos... Livrei-o de algumas confusões, o senhor está vivo até aqui devido a mim.

Agora não disse nada. Fiquei pensando, raciocinando. Aquele tipo me deixara sem respostas. Será o cara da fornecedora de tubos de oxigênio? O cara da seguradora? O leiteiro que fornecia leite para a minha mãe quando eu ainda tinha um ano e dois meses? Puxa, mas depois de quarenta e seis anos, ele quereria o que comigo? Será que mamãe ficou devendo alguns litros?

-Quem é você então?

-Seu anjo da guarda.

-O que?

-Seu anjo da guarda.

-E o que quer?

-Pedir demissão.

-Mas espera lá.... Tem direitos trabalhistas com anjos da guarda?

-Não sei... Mas estou à beira de um infarte cuidando da sua vida...

-Mas.. e quanto à minha segurança...

-Não sei....se vira.... to indo.

Mal saiu à rua e um barulho, o frear abrupto de um ônibus, uma brecada seca, rumores de vozes. Todos correram. Vi então o que tinha acontecido: Rubão havia sido atropelado. Imediatamente o coloquei em meu carro e o levei ao Pronto Atendimento mais próximo.

Depois de passado o susto, perguntei:

-Ainda quer me abandonar?

-Pensando bem... Não. -Respondeu ele, sem hesitar mais que meio segundo.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 26/12/2013
Código do texto: T4625627
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