ARA VÓ, "NÓIS CASÔ NO PAPEL"!
O assunto nem é lá para tanto humor assim, a coisa era séria por demais, contudo, eu estava lá e pude presenciar algo de estranho na súbita lucidez daquela senhorinha que fora acometida pelo declínio das faculdades mentais.
Doutor João foi chamado às pressas, num desses sábados ensolarados, para resolver um probleminha dela, sua paciente um tanto agitada que daquela vez estava internada por causa dum pé diabético arretado de ruim!
Dona Setembrina, assim chamada em homenagem à Pátria porque nasceu num sete de setembro, já não andava muito bem das bolas.
O doutor pacientemente explicava para a família que essas coisas acontecem mesmo quando o diabetes desanda.
E assim que entrou no quarto da paciente foi logo supreendido em alto tom:
-Sai daqui ô coisa ruim, você quer me matar! Abaixa a arma!-dizia dona Setembrina para o complacente doutor João.
Implacável na calma e no assunto o doutor comtemporizou:
-Calma dona Setembrina estou aqui para ajudá-la!
-Ajudar a me matar, só pode ser. Olha, olha quantos estão armados! Todos eles! Todos vocês querem me matar, tem matador até no teto, subiram pelas paredes!-e apontava para as visitas do paciente ao lado a continuar:
-Olha essa caolha aí! Está fora da mira olhando para me matar!
Foi quando a neta chegou com o marido.
-Oi vó, tudo bem?
-Quem é você? Mata essa cobra!-gritou dona Setembrina
-Vó, carma, sou eu, e é nóis vó! Seus netos!
-Netos? Não conheço ele, não tenho neto home! Esse veio me matar! E você...ah minha netinha querida...quanta saudade...onde eu estou?
-Vó, cê tá no hospital, e ele é o Gê, lembra? Nóis até casô, vó, nóis casô no papel, como ocê queria vó!
-Ocês casaram? Vixi! Quando? Nossa! E foi no Papel, foi? Corajosos ocês...
Foi quando percebi que doutor João se animou com aquele único momento de consciência bem fugaz da dona Setembrina. Talvez uma súbita melhora inesperada da função pra lá de cognitiva...
Nota: Fato verídico, nomes existentes na lista do doutor João mas fictícios na presente crônica.