O flerte de crítica

Crítica é, sem dúvidas, uma mulher fascinante. Dona de lindo sorriso e olhar dúbio encanta até os mais distraídos, que não se preocupam tanto com o exterior, mas com o interno e intrínseco. Crítica passeia distraída pelas ruas, arranca suspiros e piadas de bom e mau gosto, é claro. É linda, com cabelos cumpridos, face austera, corpo retilíneo e esguio, pele clara e marcada levemente pelo sol. Voz macia, passos firmes, dedos hábeis e língua ferina. Crítica já não é mais uma menina, existe há tempos, toda via, ainda possui a jovialidade e encanto de outrora, quase petrificados em seu sorriso brejeiro e trágico. Crítica é casada, bem casada. Anda por aí de braços dados com o marido Cânone, sempre bem vestido, com seu ar aristocrático e seu jeito nada meigo de ser. Cânone é um homem dos sonhos, alto, forte, bonito, de olhos claros, pele levemente amorenada e sem nenhum defeito que macule sua face máscula. Nem citarei aqui os dotes filosóficos do jovem senhor, sem contar seus prêmios, suas aclamadas teorias e seus incontáveis admiradores. Cânone e Crítica formam um casal perfeito, uma quase personificação de Brad Pitt e Angelina Jolie, só que bem mais badalados e midiáticos. Não tem filhos, mas tem diversos sobrinhos e parentes, com um destaque especial para Mídia e Intelectual, casal distinto, que sempre visita Cânone e Crítica. Mas voltemos a falar do principal personagem desse enredo, a distinta e sensual dona Crítica. É uma fiel esposa, dizem as boas línguas. Cumpre todas as suas obrigações, nunca deixa furos. Mas será, meus senhores? Convenhamos, não existe perfeição nesse mundo de meu Deus, sempre há um lado negro no angu de todo mundo. Apesar de distinta, de boa esposa, de bela senhora, dizem que Crítica anda flertando com Best Seller e juram de pés juntos que já teve um caso com Popular, mas ela o esnobou. Mas é possível? Afirmam veementemente que sim, que ela foge todas as tardes, com a linda desculpa de que vai a igreja. Mas, na verdade, ela vai é ver o amante Best Seller, que é um tipo garboso, de fala elegante, mas não com o mesmo estilo de Cânone, é claro. Os leitores devem estar a se perguntar, porque trocar o marido, homem de posses, distinto, cheio de virtudes, por um tipo que está no bico de todas? Crítica, no fundo no fundo, aprecia por demais o deleite de flertar com o rústico Best Seller. Adora ouvi-lo falar clichês em seus ouvidos e sussurrar frases feitas entre um beijo e outro. Cânone é ótimo, mas Best Seller dá o que ela mais procura: diversão, amor, atenção, prazer, deleite e um pouco de sossego. Ela gosta, mas não arrisca um divórcio de jeito maneira. Se ela pode ficar com os dois, para que esse negócio de divórcio? E assim crítica vai levando... Casada com Cânone e flertando com Best Seller. Um dia isso dá romance...