JOGAR A CASA PELA JANELA
NA MANHÃ DE 18 DE OUTUBRO DE 2013
Olho o caos que reina nas gavetas e nos cômodos infinitamente incômodos da alma, da vida, de tudo e não tenho nenhuma ideia, nenhuma mesmo, de por onde começar a faxina, nem do que seja coisa para guardar e coisa para jogar fora.
Há uma expressão usada na Argentina que diz bem, muitíssimo bem do que estou a sentir há muito: "jogou a casa pela janela", quando lá se quer dizer que alguém fez algo muito além da conta, exorbitou, saiu fora de todos os limites.
A expressão "jogar a casa pela janela" não a posso usar para mim, no sentido com que os argentinos a usam para eles mesmos. Eu não exorbitei, pelo contrário; de tanto ver murchar as coisas tantas até vê-las reduzidas a esse nada de exorbitâncias inúteis, há momentos em que a expressão
"jogar a casa pela janela" deixa de ser metáfora, imagem e só me ponho a salvo dela no que me resta ainda de alguma honra e também porque não tenho quase mais nenhuma força nas pernas para realizar a tarefa pesada, proibida, proibitiva e irreversível de "jogar a casa pela janela".
Por causa de tamanha impotência "geral e irrestrita", preciso encontrar, ainda não sei onde, alguma coragem para iniciar a faxina, a limpeza, por qualquer gaveta, por gaveta qualquer, da casa da alma... da vida.... tomando o cuidado de não jogar fora, junto com a água suja, também os bebês*: os bebês * precisam ser preservados.
• Claro, a palavra "bebês" está sendo usada em sentido figurado: não há nenhum bebê com a vida em jogo.
Republicação na manhã de 18 de outubro de 2013.