E NEM ERA DIA DO "DOUTOR JOÃO"!

Lembram dele?

Daquele meu amigo doutor, algo médico- algo sofredor, de quem eu sempre trago notícias?

Pois é, anda meio sumido e hoje lembrei dele, coitado, afinal dizem que dezoito de outubro é o dia do médico, ara,então pensei em lhe render uma homenagem escrita nesta data meio estapafúrdia para o seu mais momento tão a menos, mas então, eu que gosto de escrever e contar histórias do entorno, trago ao leitor uns acontecimentos reais, bastante ilustrativos, da vida de quem se aventura a ser só e meramente um MENOS doutor João nos dias de hoje...

Porque é época de moda MAIS .

Claro que meu amigo não sabe que estou aqui, eu o observo na sua labuta de todo dia algo de longe, meio em silêncio reflexivo, porque ultimamente doutor João anda algo robotizado com o que vive.

Era um dia comum, e nem era dia dele... naquele seu mesmíssimo dia de todos os dias.

Afinal, chegara ali no ambulatório a abrir as portas do dia como faz há quase trinta anos.

Entre burburinhos, cruzou a enorme fila de espera dos seus pacientes formada ali na calçada, procurou pelos receituários, pelos formulários de exames, pelos encaminhamentos de especialidades, pelo esfigmomanômetro, tirou o pó da sala ...e enfim, pronto para o início do dia, seu celular tocou.

Tratava-se dum colega que precisava de ajuda num procedimento de endoscopia, aquele exame que nos espia por dentro.

Pediu licença aos usuários e se ausentou por alguns minutos.

Ao chegar na Endoscopia, seu colega urgia por ajuda numa expiação intestinal.

O paciente obstruído nas tripas, na hora em que o endoscópio passou, refluiu o que se denomina "vômito fecalóide" sobre seu colega endoscopista que, encharcado do tal produto, prontamente pediu socorro ao doutor João.

Resolvido o problema do paciente e do endoscopista, doutor João voltou "algo respingado" para o início do seu atendimento de menos clinico, quando alguém exclamou aos berros:

-O senhor é um folgado como os médicos da novela, isso lá é hora de começar o atendimento da gente, esperamos vinte minutos!

Então, o folgado e cada vez mais a menos doutor João, placidamente, chamou o primeiro cliente daquele SEU dia.

Percebendo que o médico estava estarrecido, o seu paciente, por ele acompanhado há vinte anos , assim o consolou:

-Fica chateado não doutor, é assim mesmo quando a gente escolhe uma profissão que não tem valor...agora com o "mais médicos" o senhor vai se aliviar um pouco e logo logo vai aposentar...

Bem, depois de lhes narrar o acontecido surreal mais real de todos os tempos, com falas textuais, quero aqui deixar o meu grande abraço, não apenas ao meu amigo doutor João, mas a todos os tantos doutores Joões que tão anonimamente trabalham por um Brasil a mais, atualmente num contexto em quase tudo bem a menos.

Mais...sempre mais em tudo de bom, é o que desejo aos personagens do meu relato e aos meus leitores.

Eu, a bem da verdade do meu amigo, sem que ele saiba jamais, também faço aqui um minuto de silêncio em prol dos muitos médicos a mais em todo o mundo.

Afinal, dizem que o silêncio é sempre a melhor resposta...