O CALDO ENTORNADO
Ao “Delfim gestor”
Um saboroso repasto
Combinou-se de aprazado
Mas fez-se dia nefasto
Ficando o caldo entornado.
Amigos de longa data,
Todos levados de arrasto,
Miravam em concordata
Um saboroso repasto.
Há rectas e curvas tortas
Neste mundo endiabrado
P´ ra s´ evitarem as voltas
Combinou-se de aprazado.
Com Ribeiro anfitrião,
De cabedal e bom lastro,
Havia espaço e bom melão
Mas fez-se dia nefasto.
O Delfim lançou a malha
Com coelho apalavrado
Mas Cadavadas deu falha
Ficando o caldo entornado.
O Frassino desafinou
Em tom de cana rachada
E o Calisto filosofou
Com sebenta amarfanhada.
O Sitefane não pôs defeito,
Com caneco ou cafeteira,
P´ ra ele de qualquer jeito
É sempre boa maneira.
P´ ro João Alcaravela
Não ´stá entornado o caldo
Com seu moinho a dar à vela
Colherá sempre algum saldo.
Por falar em dar à vela
Sem os ventos de feição
Virá nova ensaboadela
Numa outra ocasião.
Se o repasto era coelho,
E coelho de três ao prato,
P´ lo ditado que já é velho
A Montanha pariu um rato…
A amizade tem seu preço,
E há destas coisas na vida,
P´ ra não ficar do avesso
Façamos-lhe outra partida:
Fora com tristes apuros,
Por medida e por decência,
O Delfim pagará de juros
Outro coelho de excelência!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA