UM MINEIRO EM NOVA YORK
Dizem que certo ou errado
Só acontece com mineiro:
Lá pras bandas de Uberaba,
Na verdade um fazendeiro
Ficou por demais ufano,
Ao saber no fim do ano
Que gastou bem o dinheiro.
Viu sua filha se formando
Em Letras na Faculdade,
Já noiva dum engenheiro
Que a amava de verdade,
Moço de Belo Horizonte
Tinha títulos de monte,
Doutor, uma sumidade.
Secretário do prefeito
E professor de Inglês,
Assim seu futuro genro
Mostrava que tinha vez
No achego à família rica
De um mineiro tiririca,
Curtindo a sua viuvez.
O mineiro à sua esposa
Foi bom marido e fiel,
Pai de uma única filha
Porque o destino cruel
Impôs-lhe pesada cruz:
Sua mulher, ao dar à luz
Partiu deixando-lhe o anel.
Mineiro não mais casou
Honrando a paixão eterna,
De sorte que a mãe dele,
Da menina a vó paterna,
Foi quem de fato a criou
Até que ela se formou
Nessa ilustrada luzerna.
Foi pomposo o casamento
Da filha do fazendeiro,
Com direito a discurso
E quadrilha no terreiro,
Teve até baile na tulha,
Ao longe se ouvia a bulha
De sanfonista e violeiro.
Sendo a noiva muito rica
E o noivo grande burguês,
A Lua de mel deveria
Ser recheada de Inglês:
Voando daqui do Brasil,
Cruzou o lindo céu de anil
Um avião com altivez.
Os noivos e o fazendeiro,
Que ambos quiseram levar,
Voaram em longa viagem
Num gol plano em pleno ar,
Tempo curto para os dois,
Pra o mineiro só depois
De um tempão foi chegar.
Mal desceram do avião,
Já ainda no aeroporto,
O pai da noiva estava
Andando até meio torto:
- Para onde é que eu rumo?
"Preciso picá o meu fumo,
Se num pitá já tou morto".
O pacote era completo
Almoço, jantar e tudo,
Cidade de Nova York,
Lá o mineiro botinudo
Hospedou-se numa suíte
Pra saciar seu apetite,
Numa cama de aveludo.
Desapareceu-se o casal,
Naquele luxuoso hotel,
Pra no enlace confirmar
Um ao outro o amor fiel,
Num amplo quarto sozinho,
Deixou a moça o paizinho,
Foi para a Lua de Mel.
Deixemos aqui o casal
Em deleites numa cama,
Para ver o pai da noiva,
Caboclo de terra e grama,
Em Nova York distante
Com a bela acompanhante,
Que lhe deram como dama.
Mineiro já mal sabia
Que por muito que demore,
O que é bom acontece,
Bem antes que o ovo gore;
Durante aquela trepada,
Gritava a loira arrepiada:
"Once more, once more".
Em jejum há muito tempo,
Mineiro num vem e vai:
"Once more, once more"*
Gritava a loira num ai,
Foi quando ele respondeu,
Depois que se arrefeceu:
- Eu moro em Beraba, Uai!
*Once more, once more!
Mais uma vez, uma vez mais!