SERGINHO
A situação do Manicômio Judiciário era triste. Ver o amontoado de gente viver daquela forma causava-me mal-estar. Mas também aconteciam motivos de risos.
Serginho era um homem dos seus trinta anos. De estatura baixa, o corpo balançado, usava frases desconexas e tinha dificuldade de pronunciar algumas palavras. Sempre que pedíamos, se prontificava, ajudando nas risadas. As que mais nos divertiam eram mertiolate e esparadrapo.
Mantinha um caso amoroso com outro paciente. No momento, ostentava com orgulho sua fidelidade. Mas sabíamos que nem sempre foi assim. Ao primeiro que o convidasse, entregava-se.
Por isto, precisou de uma cirurgia, por causa das hemorróidas. Ficou o tempo necessário no hospital, depois permaneceu na enfermaria do Manicômio até a completa recuperação.
Médicos, enfermeiros, atendentes, guardas, aconselhavam-no a ter cuidado, para se emendar e não voltar à prevaricação. Sorria, dizendo estar com saudade de seu amor.
Gustavo o visitava. Era homem do interior, alto, corpulento, sério e respeitador. Difícil acreditar que fosse dado ao homossexualismo. Mas ali, o isolamento, a ausência de mulheres propiciava isto.
Nossa conversa era com Serginho. Gustavo deixado de lado, numa anuência tácita e de certa forma incrédula sobre seus gostos sexuais.
Recuperado, Serginho voltou à cela. Tinha certa liberdade, transitando pelos corredores, pavilhões e jardins. Gostávamos dele. Há tempo andava por ali. Muitos de nós nem sabíamos do crime que o trouxera à prisão.
Uma tarde, quando me encontrava na enfermaria, Serginho chegou correndo, o rosto vermelho e assustado. Atropelando as palavras e gesticulando, disse:
— Enfermeira, socorro! O Ademar quer estragar minha operação.