COINCIDÊNCIA

                                         É a VIDA....

Recebi um texto por e-mail muito semelhante a um texto meu publicado em meu livro "Sexo, Mulheres e Ecologia" em 1992 e aqui divulgado em 18/01/2011.
Dei umas mexidas no texto e aqui vão os dois , o meu e este agora recebido.


PERDIDO NO TEMPO

 
Sou do tempo das costeletas. Do tempo em que o homem curtia mulher (sem dividir a conta) e não a ecologia e outros homens - ninguém admitia ser chamado de afeminado ou de mariquinha e, diga-se de passagem, só as mulheres usavam brinquinhos... "Vem cá se você é homem" - e o outro ia. Trocavam ombradas de cara torta - tudo exibição ridícula, porém autêntica. Do tempo da cortesia com as mocinhas, da boa educação, do elogio, do galanteio, do flerte e do tempo em que se usavam as palavras: broto e balzaquiana.
Sou do tempo dos filmes de bang-bang, das comédias de costumes, brasileiras e italianas, do sonho da Zona Sul, da bossa-nova, das festinhas de terno, aos sábados, embaladas a cuba-libre e roquinhos americanos com coro no fundo.
Havia também o rock-balada, o beijo na boca, passeios de mãos dadas, o noivado, os namoros desfeitos, tantos quantos fossem necessários para manter a possibilidade ilusória de encontrar a prometida, as normalistas, a ginástica de aparelhos, a Rua Montenegro, as praias do Arpoador e do Castelinho e o glamour de ir à sorveteria Bob's aos domingos, lá pelas seis da tarde.
Era o tempo do mistério das pequenas coisas que se transformavam em promessas de grandes sensações, das expectativas do vir a ser. Era o tempo das ilusões inúteis - mas úteis enquanto ilusões. Profundas ilusões baseadas numa fantasiosa esperança íntima, sem vínculo com a realidade. Se me detenho nestas considerações é para registrar, no tempo, o meu tempo. É a forma que encontrei para transmitir que um dia... uma época... mesmo sem o saber tive o meu tempo.
(do livro de humor reflexivo "Sexo, Mulheres e Ecologia" de Luiz Otávio)

_________________________ texto recebido_______________________
Nós nascemos antes da televisão, antes da penicilina, da vacina Sabin, da comida congelada, da fralda descartável, do Xerox, do plástico, das lentes de contato e da pílula. Nós nascemos antes do radar, do cartão de crédito, da fissão de átomos, raio lazer e canetas esferográficas .
Antes da máquina de lavar pratos, cobertores elétricos e ar condicionado .
Antes dos tais direitos humanos, da mulher que trabalha fora de casa, da terapia de grupo, dos SPAS e dos Flats, do movimento ecológico.
Nós nunca tínhamos ouvido falar em vídeo cassete, computadores, vídeo games, “danoninhos” e rapazes de brinco.
Nós nascemos antes dos antibióticos, dos transplantes de coração e do Viagra.
Todavia, mesmo sem este remédio a população decuplicou . Era uma época de famílias numerosas, muitos filhos... As residências só possuíam um banheiro e é fácil de imaginar a fila de espera pela manhã.
Nos casávamos primeiro e só depois morávamos juntos. O casamento não era descartável e era de homem com mulher. Os casais viviam junto durante muitos anos e, acreditem, com os mesmos parceiros! Gente estranha, não? Sexo era tabu. Motel? Se tornaria apelido pejorativo de Hotel. Tatuagem era coisa de marinheiros. Mulher tatuada? Nem pensar.
Fumava-se cigarros livremente. Erva era usada para fazer chá, coca era refrigerante, pó era sujeira, Bikini era uma ilha do Pacífico e sacanagem era palavrão.
Embalo era como se fazia as crianças dormir, lambada era chicotada.
Fio dental servia para higiene bucal e malhar era coisa de ferreiro.
Nós fomos a última geração tão boba, a ponto de que se precisava de um marido para ter um bebê.
Além disto éramos tão ingênuos que cedíamos lugar para uma senhora sentar na condução e pagávamos a despesa quando saíamos com a namorada A geração de hoje, talvez olhe para nós com cara de espanto, tentando saber como sobrevivíamos com tão poucos recursos e manias estranhas e esquisitas... Bem, nós nos contentávamos com o que tínhamos.
Tínhamos o bonde e as praias despoluídas. Quando não era possível ir à Miami, fazíamos passeios à Ilha de Paquetá e Petrópolis Tínhamos as brincadeiras de rua, os bailes de formatura, as novelas da Rádio Nacional, Curtíamos o delicioso namoro no portão, com todo respeito. Ser taxado de mariquinhas era vergonhoso E gay não era uma palavra usada.
Também fazíamos passeios ao Joá, quando a Barra era então um grande areal .Existiam muitos terrenos baldios, onde a garotada se divertia e jogava pelada. E o mais importante, andávamos pelas ruas sem medo de assalto ou seqüestro.
Parece muito pouco, quase nada comparado com a trepidante época atual.
Mas éramos felizes, inocentes, românticos e sem a terrível competição de hoje.
Não é de espantar que estejamos hoje confusos e haja tamanha lacuna entre as gerações. Sim, nós vivíamos e continuaremos a viver.

 
Karpot
Enviado por Karpot em 18/09/2013
Código do texto: T4487085
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