Fazia tempo...

Naquele dia não havia nada para fazer, ela resolveu dar uma volta, afinal, fazia tempo que não ia beber um café naquela padaria, olhar os patos naquele jardim, ver a vizinhança no vai-e-vem de quem espera que o mundo acabe daqui a meia hora( e se acabasse o melhor era sentar e esperar).

Não se deu por satisfeita e esticou um pouco até o parque onde haviam muitas crianças brincando, um dia, seriam as dela.

Sentou-se e resolveu ali ficar por uns instantes.

As migalhas de uma bolacha trazida pelo vento a incomodou, melhor era sair dali ,afinal, fazia tempo que não estava com tanta criança e com tanto barulho a volta. A bicicleta quase a atropelou enquanto distraída limpava e sacodia o cabelo, pelo menos o banco ao lado estava vazio e para lá seria o seu alvo. Eis que a Senhora de sempre( era o que parecia) resolveu alimentar os pombos, para seu desespero total. Fugiu dali enquanto podia até deixar-se ficar debaixo de uma sombra de árvore pelo ali parecia "seguro".

O carro de controle remoto aterrou mesmo em cima dela e com toda delicadeza e sorriso sem tamanho devolveu o brinquedo ao amiguinho enquanto ele sorridente lhe mostrava o galo que cantava em sua testa.

Assim já não conseguia, resolveu voltar para casa, e no trajeto de volta que fazia tempo não o fazia teria que ter um mimo final para recompensar aquele dia. Pediu uma fatia de bolo, aquele bolo que há muito tempo lá não comia, deliciou-se até sonhou que aquela manhã nem sequer existia. "Coisas da vida" pensou ela.

- D. Cris quanto tempo não a via por aqui! trabalhando? casou? tem filhos? o que é feito da vida? e sua mãe? Dizia a voz alegremente disparando qual metralhadora desvairada enquanto tomava posse da cadeira ao lado.

Lembrou-se daquela vizinha que fazia muuuiiiitttooo tempo havia reclamado do seu gato(que teve que dar a amiga), controlava seus horários, espreitava sua correspondência e ainda lhe deixava post it no carro a reclamar da limpeza da escada do prédio.

Limpou a boca calmamente, toda a fúria de uma ano inteiro lhe subiu a cabeça não conseguiu se controlar. Com um grande sorriso de malícia aproximou-se e lhe disse em tom de fofoca:

-" Eu vou bem, muito obrigada...já agora sabe o que aconteceu a uma amiga minha muito curiosa?

-"Não! o que?" Respondeu a velha muito ávida da resposta quase que se debruçando em cima da mesa.

- "Amanhã eu lhe conto!"

Saiu e nem para trás olhou, não parava de sorrir pensando que fazia tempo que ouvia sua mãe dizer que "a curiosidade matou o gato".

Vane Silva
Enviado por Vane Silva em 08/09/2013
Reeditado em 08/09/2013
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