DOUTÔ, É " FARTA" DE QUÊ?
Nesses tempos em que estamos recebendo médicos estrangeiros para o socorro à saúde pública brasileira, um dos assuntos-problemas que se destaca no atendimento dos profissionais de fora, além da fluência na língua, também são algumas outras questões que aparecem no dia- a- dia.
Assim, decerto que ao atender algumas pessoas num país de tantos e diversos sincretismos, algumas diversidades caracterítcas das diferenças culturais regionais, quase folclóricas, alguns mitos e crenças da população logo aparecem para quem trabalha em campo.
São muitas e são divertidas, e atendendo também se aprende muito de Brasil.
E dia desses estava eu ali assessorando o doutor João que atendia no seu ambulatório, é aquele meu amigo médico que sempre tem histórias para contar, e pude , de longe, peceber o esclarecimento duma dessas crenças logo na primeira consulta do dia dele.
Elas, mãe e filha adolescente entraram juntas para a consulta, embora eu saiba que o doutor João não goste desses atendimentos pareados. Dá muita confusão nos esclarecimentos.
Batata: elas tinham a mesma queixa e não foi fácil administrar as ansiedades.
Tudo parecia igual para elas, todavia, o doutor lhes explicava que nada se apresenta de forma identica no organismo de duas pesoas, ainda que se trate da mesma doença.
Parecia, à primeira impressão das pacientes, tratar-se da tal " dor de barriga por verme", mas com muita precisão, doutor João esclareceu que era um diagnóstico expectante que apontava para uma gênese mais sindrômica da área da ginecologia: dor no baixo ventre...a esclarecer. E ele tentaria o tal esclarecimento.
Discutidas todas as possibilidades, as perguntas, as respostas,as dúvidas, e depois dos exames físicos, ficou decidido quais exames laboratoriais seriam feitos para ambas, os protoparasitológicos também, obviamente que respeitadas as devidas diferenças de raciocìnio diagnóstico para cada uma delas.
-Bem, então vamos pesquisar se há inflamações ou infecções...disse o doutor João, meio exaurido.
Foi quando a mãe da adolescente lhe perguntou enfaticamente:
-Ah doutor, então não é farta de home? Lá onde nasci dizem que é!O senhor tem certeza que não é?
E a adolescente retrucou irritada:
-Ara mãe, isso é sem-vergonhice, ara sô!
Verídico.