Descalcificado
- Pois é senhor Ismael, mas afinal o que é que o preocupa?
- Ó senhor doutor, sinto-me um bocado em baixo, com um ardor no peito que nem sei bem como lhe dizer.
- Ardor?
- Sim senhor doutor, mas é um ardor sem doer…olhe…nem sei bem como lhe hei-de explicar.
- O que se calhar quer dizer é que sente uma angústia?
- É isso mesmo! É mesmo isso que sinto.
- Então diga-me cá, já sente essa angústia há muito tempo?
- Já lá vão uns cinco meses, para mal dos meus pecados.
- Oh homem de Deus! E só agora é que veio à consulta?
- Sabe como é, sempre à espera que passasse.
- Então conte-me cá, como é apareceram os primeiros sintomas.
- Então lá vai: Há uns meses contaram-me que a minha Arminda andava metida com o meu vizinho. Sem perder tempo, deixei o trabalho a meio e corri até casa a tempo de o ver a sair de minha casa. Sem que a minha mulher tivesse tempo de abrir a boca, dei-lhe uma tareia e mandei-a para casa dos pais.
Agora, passado este tempo todo, fiquei com grande dúvida, será que ela me enganou ou será que não? É que na minha ideia já era tempo para me ter nascido qualquer coisa na cabeça. Não acha senhor doutor?... Será que ela não me enganou mesmo ou será que é falta de cálcio?