AMIGA ATÉ DEPOIS DA MORTE
-Oi, Lucrécia.
-Oi, Divina.
-Você não morreu?
-Credo, que pergunta.
-Me disseram que você estava muito doente, estava com o pé na cova. Estou ligando para saber como está.
-Estou viva. É... as amigas só ligam quando sabe que a gente tá bem, quando a gente tá doente, não ligam para passar uma energia positiva.
-É uma carapuça?
-Claro que não amiga.
-Mas então, se você pegar gripe, dengue, daqui a alguns meses ou ano que vem, te desejo melhoras. Estou mandando já as minhas saudações de melhoras antecipadas.
-Se eu ficar doente, vou lembrar em você.
-Estava aqui pensando, você faz um favor pra mim?
-Qual?
-Quando você morrer, promete uma coisa?
-Ficar com o Homero?
-Claro que não, minha amiga, não é isso não.
-Sempre desconfiei que tinha uma queda por ele.
-De onde tirou isso minha amiga??! Não é isso não. É o seguinte, se você morrer, eu pediria uma coisinha só.
-Fala.
-Eu pediria que no seu velório não fosse servida aquela bolachinha de Maisena com manteiga, não. É muito chato. E aquele cafezinho então, aquilo é convite para uma úlcera ou uma tumefação no esôfago. Nossa, que horrível. Amiga, eu proporia no cardápio do seu velório, um arroz a grega, com cenoura levemente picada; uma torta de frango, levemente glatinada; panquecas de cogumelos levemente chamuscados; feijão tropeiro, com pouco sal, porque tenho pressão alta; uma bacalhoada com bastante pimentão e batata; salmão grelhado com coentro; bife na panela ao vinagrete e uma salada de espinafre. Para beber, um champanhe das montanhas suíças, para ser servido em taças de cristal.
-Só isso??
-Ah... e para entrada uma porção de camarão. Pronto.
-Tem preferência por buffet?
-Olha, se você, poder me indicar, fico muito agradecida.