Se Camões fosse Vivo...
Teria começado assim...
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que hoje se encontram instalados
Fazendo o que lhes der na real gana
Em seus poleiros bem remunerados
Prosperando de forma desumana
Esqueceram o quanto proclamaram
Nas campanhas com que nos enganaram!
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
As contas bancárias numerosas,
Do Algarve ao Minho arrecadando,
As comissões das obras grandiosas
E o povo com fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Tanta injustiça por toda a parte!
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
À custa duma trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.
E vós, ninfas que morais neste lago
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Os que em nome duma ala dura
Só pensam numa nova ditadura!
Luiz Vaz Sem Tostões/Adaptação de José Mota