VOCÊ MORREU DE QUÊ?

Um cidadão chegou ao céu, bateu na porta e São Pedro o introduziu no paraíso celestial com sua calma e aquela benevolência de sempre:-

“- Pode entrar, meu filho, seja bem vindo” – e o cara entrou, meio desconfiado. O velho guardião indagou do novato:-

“- Você morreu de quê, filho?”

“- Ah, São Pedro, eu morri de corrente de ar. Detesto corrente de ar, sabe?”

“- Pois então vá dar umas voltas por aí, aprecie o panorama e depois volte pra gente conversar mais detalhadamente, ouviu?”

“- Sim senhor, São Pedro” – e o novo hóspede do paraíso adentrou o recinto.

À tardinha, o sol já descambando num belíssimo poente, cobrindo de luz e cores fantásticas toda a paisagem, o novato tornou à recepção onde São Pedro já o esperava.

“- E aí, meu filho? Gostou do que viu?...”

“- Ah, São Pedro, achei muito bonito. Mas achei também um pouco frio com ventos amenos que me fizeram espirrar. Eu disse ao senhor que não suporto corrente de ar, não foi? Posso lhe pedir uma coisa?”

“- Pois fale então, meu rapaz.”

“- O senhor me permitiria visitar o inferno pra sentir o clima de lá? Prometo que eu volto antes do tempo.”

“- Ah, mas isso é impossível, filho! Não vejo como atendê-lo.”

“- Mas São Pedro, prometo retornar. É jogo rápido.” – e deu um tom de súplica ao seu pleito, enchendo a paciência do velho e santo porteiro com a sua lenga-lenga.

São Pedro, vencido, lhe deu um salvo-conduto de apenas três dias e o cidadão desceu ao inferno rapidamente.

São Pedro, já velho e cansado, meio fraco da memória, esqueceu-se do episódio e no final da semana se lembrou, pegou seu cajado e desceu ao inferno. Chegou, bateu o cajado, o diabão entreabriu a grande porta sorrindo e disse:-

“- Fala, Pedroca! Que bons ventos o trazem?...”

“- Ah, Lúcifer, eu tou procurando um cara. Dei-lhe um passe pra vir aqui conhecer por apenas três dias e já correu uma semana, sabe?”

Antes que o diabo falasse alguma coisa, São Pedro deu uma olhada pro interior do recinto e viu, lá no fundão, uma grande mesa onde se jogava pôquer, cercada por mulheres nuas dançando e rebolando lascivamente, música alta, garrafas de uísque, tequila e cachaça à vontade, todos pitando num fumacê danado, no maior bacanal. Foi quando um cára gritou lá do meio:-

“- Fecha essa porta aí, pôrra! Olha a corrente de ar! ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 21/07/13

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 21/07/2013
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